São Paulo, Sábado, 28 de Agosto de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PECADOS DO EQUADOR

O governo equatoriano deu mais um motivo aos que acreditam que não existe pecado ao sul do Equador. Anunciou uma moratória, por 30 dias, no pagamento de juros e a reestruturação de sua dívida externa.
Numa região onde já houve moratória brasileira, quebras no Chile e na Argentina e colapsos financeiros variados na história recente, a decisão tende a reforçar o preconceito contra os emergentes latino-americanos.
Ainda mais porque justamente agora os emergentes asiáticos voltam a cair nas graças da comunidade financeira internacional. Por comparação, o risco financeiro ao sul da linha do Equador tende a ser avaliado de modo ainda mais negativo.
O problema não está no volume financeiro envolvido (juros não pagos de US$ 96 milhões em dívida de US$ 6 bilhões). Trata-se de um montante quase irrelevante, do ponto de vista dos fluxos de capitais que orbitam no mercado da dívida externa de países em desenvolvimento.
Sendo insignificante do ponto de vista global, a decisão equatoriana não terá o dom de provocar uma onda de contágio, como ocorreu com violência após a crise asiática ou depois da moratória russa.
Aliás, a sequência de crises financeiras em mercados emergentes provocou uma tal retração entre credores e investidores que, agora, episódios isolados já não provocam os mesmos efeitos de encadeamento.
Ainda assim, do ponto de vista qualitativo, o episódio equatoriano tem outras dimensões relevantes. Como salientou o jornalista Celso Pinto, nesta Folha, trata-se do primeiro caso em que o governo americano e o FMI apóiam um país emergente em renegociação de dívida externa que inclui títulos com credores privados.
Para os mais céticos, essa iniciativa poderá provocar uma retração ainda maior no espaço para a emissão de títulos de países emergentes. Ou seja, ficará ainda mais difícil financiar o desenvolvimento com recursos emprestados voluntariamente no mercado de capitais privados.


Texto Anterior: Editorial: ODOR DE IMPUNIDADE
Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: Uma voz, muitos ouvidos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.