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Uma voz, muitos ouvidos
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Suspeito que o governo
festejou cedo demais a unidade de sua
base parlamentar a partir da reação à
marcha da oposição.
Pelas reações que a Folha ouviu, fica
evidente uma diferença percepção entre, de um lado, não-tucanos e tucanos, e, de outro, entre parlamentares
governistas e ministros.
Para os ministros e tucanos ouvidos,
a marcha não deixou marcas, por ter
sido apenas "uma mobilização das
máquinas partidárias", no dizer de
Arnaldo Madeira (PSDB-SP), líder do
governo na Câmara.
Já para peemedebistas como Michel
Temer (SP) e pefelistas como Inocêncio Oliveira (PE), líder do partido, a
marcha deixou, sim, marcas, na forma de um recado que Inocêncio diz
que o presidente até vai ouvir.
Posto de outra forma, os tucanos estão irremediavelmente atados ao destino do governo, o que os faz reagir de
acordo. Ou seja, saem a defender o governo e a criticar a oposição, mesmo
que os fatos não os ajudem.
Já peemedebistas e pefelistas parecem acreditar que ainda podem salvar seu futuro político mantendo um
pé na canoa governista e um ouvido
na chamada "voz rouca das ruas". Sabem que a marcha, mesmo tendo sido
acima de tudo da militância oposicionista, é o eco de um desencanto mais
generalizado que as pesquisas captam
à perfeição.
Um descontentamento que, acreditam, só uma mudança de rumos na
economia poderá talvez calar.
O curioso é que mesmo no governo
há quem (Pedro Parente, chefe da Casa Civil, por exemplo) admita que
"ouvir o clamor da rua manifestando
o seu desagrado é fundamental".
Ocorre que os ministros acreditam
que a resposta não é mudar mas, ao
contrário, persistir e aprofundar a política que vem sendo seguida desde, a
rigor, a primeira posse de FHC.
A eleição de 2000 dará a primeira e
forte indicação de quem tem razão.
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