São Paulo, Sábado, 28 de Agosto de 1999
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Uma voz, muitos ouvidos

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Suspeito que o governo festejou cedo demais a unidade de sua base parlamentar a partir da reação à marcha da oposição.
Pelas reações que a Folha ouviu, fica evidente uma diferença percepção entre, de um lado, não-tucanos e tucanos, e, de outro, entre parlamentares governistas e ministros.
Para os ministros e tucanos ouvidos, a marcha não deixou marcas, por ter sido apenas "uma mobilização das máquinas partidárias", no dizer de Arnaldo Madeira (PSDB-SP), líder do governo na Câmara.
Já para peemedebistas como Michel Temer (SP) e pefelistas como Inocêncio Oliveira (PE), líder do partido, a marcha deixou, sim, marcas, na forma de um recado que Inocêncio diz que o presidente até vai ouvir.
Posto de outra forma, os tucanos estão irremediavelmente atados ao destino do governo, o que os faz reagir de acordo. Ou seja, saem a defender o governo e a criticar a oposição, mesmo que os fatos não os ajudem.
Já peemedebistas e pefelistas parecem acreditar que ainda podem salvar seu futuro político mantendo um pé na canoa governista e um ouvido na chamada "voz rouca das ruas". Sabem que a marcha, mesmo tendo sido acima de tudo da militância oposicionista, é o eco de um desencanto mais generalizado que as pesquisas captam à perfeição.
Um descontentamento que, acreditam, só uma mudança de rumos na economia poderá talvez calar.
O curioso é que mesmo no governo há quem (Pedro Parente, chefe da Casa Civil, por exemplo) admita que "ouvir o clamor da rua manifestando o seu desagrado é fundamental".
Ocorre que os ministros acreditam que a resposta não é mudar mas, ao contrário, persistir e aprofundar a política que vem sendo seguida desde, a rigor, a primeira posse de FHC.
A eleição de 2000 dará a primeira e forte indicação de quem tem razão.


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