São Paulo, Sábado, 28 de Agosto de 1999
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Marchas e contramarchas

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA

Brasília - Passeatas e manifestações públicas nem sempre produzem resultados logo após a realização e seu sucesso raramente pode ser medido pelo número de participantes.
A Marcha sobre Washington, em 1963, com 250 mil pessoas, foi fator decisivo para as mudanças na legislação dos direitos civis, que Lyndon Johnson promulgou no ano seguinte.
A Marcha de 1 Milhão de Homens Negros (400 mil pela contagem oficial), em 1995, não deu em nada.
Pode-se argumentar que, como a dos 100 mil na quinta-feira, a que Louis Farrakhan liderou em Washington há quatro anos foi sectária.
Ao contrário, a comandada por Martin Luther King Jr. há 36 anos teve vasta representatividade social.
Mas é quase certo que a marcha de 1963 foi bem-sucedida por ter catalisado um sentimento coletivo que se tornava hegemônico na sociedade norte-americana em favor da integração racial no país; a de 1995 expressava posições minoritárias.
A "Marcha dos 100 Mil" já parece estar dando frutos políticos. Por exemplo: oferecer rumo ao PT, que estava sem. E talvez acelere, no governo, mudanças na política econômica que já vinham sendo cogitadas por conta da insatisfação pública.
Aí, entra em cena o personagem Pedro Malan. Se as alterações forem muito radicais, ele talvez não se sinta à vontade para realizá-las.
Mas, se o presidente sentir que está sendo pressionado a substituir seu ministro, não o fará, como não o fez no passado em situação similar.
A troca de Malan por Armínio Fraga, que às vezes dá até a impressão de já falar como ministro, é um cenário natural no caso de alterações drásticas de rota na economia.
Mas não virá se parecer que foi uma consequência dos gritos na Esplanada dos Ministérios na quinta.
Nas marchas e contramarchas do segundo mandato de FHC, a dos 100 mil talvez tenha papel importante. Mas ela pode ter mirado em um alvo e acabar atingindo outro.


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