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Marchas e contramarchas
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
Brasília - Passeatas e manifestações
públicas nem sempre produzem resultados logo após a realização e seu sucesso raramente pode ser medido pelo
número de participantes.
A Marcha sobre Washington, em
1963, com 250 mil pessoas, foi fator decisivo para as mudanças na legislação
dos direitos civis, que Lyndon Johnson
promulgou no ano seguinte.
A Marcha de 1 Milhão de Homens
Negros (400 mil pela contagem oficial), em 1995, não deu em nada.
Pode-se argumentar que, como a dos
100 mil na quinta-feira, a que Louis
Farrakhan liderou em Washington há
quatro anos foi sectária.
Ao contrário, a comandada por
Martin Luther King Jr. há 36 anos teve
vasta representatividade social.
Mas é quase certo que a marcha de
1963 foi bem-sucedida por ter catalisado um sentimento coletivo que se tornava hegemônico na sociedade norte-americana em favor da integração racial no país; a de 1995 expressava posições minoritárias.
A "Marcha dos 100 Mil" já parece estar dando frutos políticos. Por exemplo: oferecer rumo ao PT, que estava
sem. E talvez acelere, no governo, mudanças na política econômica que já
vinham sendo cogitadas por conta da
insatisfação pública.
Aí, entra em cena o personagem Pedro Malan. Se as alterações forem
muito radicais, ele talvez não se sinta
à vontade para realizá-las.
Mas, se o presidente sentir que está
sendo pressionado a substituir seu ministro, não o fará, como não o fez no
passado em situação similar.
A troca de Malan por Armínio Fraga, que às vezes dá até a impressão de
já falar como ministro, é um cenário
natural no caso de alterações drásticas
de rota na economia.
Mas não virá se parecer que foi uma
consequência dos gritos na Esplanada
dos Ministérios na quinta.
Nas marchas e contramarchas do segundo mandato de FHC, a dos 100 mil
talvez tenha papel importante. Mas
ela pode ter mirado em um alvo e acabar atingindo outro.
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