São Paulo, domingo, 28 de outubro de 2001

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A barca de FHC

ELIANE CANTANHÊDE

BRASÍLIA - Primeiro FHC acertou com o PSDB e o PFL que não nomearia de jeito nenhum o senador Ney Suassuna, do PMDB, para o Ministério da Integração Nacional. Depois, nomeou Suassuna, surpreendendo e irritando a turma toda.
Feito o estrago, FHC fez um apelo dramático para PSDB e PFL não se rebelarem, porque a nomeação de Suassuna era "questão de governabilidade". Em seguida, Suassuna arquivou o processo do Senado contra Eduardo Jorge, o ex-assessor de FHC. Ficou esquisito.
Com esse seu estilo, FHC desalinhou ainda mais a base governista e deixou os presidentes do PSDB e do PFL tiriricas. Mas pegou os dois pelo braço e meteu num avião para a Europa junto com o presidente do PMDB. Todos muito amiguinhos.
Não bastasse para uma só semana, FHC anunciou oficialmente o deputado Heráclito Fortes (PFL-PI) para a liderança do governo no Congresso. Mas só depois comunicou a nomeação ao próprio Heráclito, que já esperava a notícia havia quase um ano. Deve ser algum tipo de tortura.
Na mesma linha, mas às avessas, FHC combinou com Eliseu Padilha que ele sairia do Ministério dos Transportes logo, rapidamente. Depois, anunciou que será em meados de novembro. E nunca se sabe quando efetivamente vai ser.
Com essas irritações tucanas, rebeliões pefelistas, jogadas peemedebistas, não caiu muito bem o presidente da República reclamar numa entrevista à rádio CBN: "O governo não é barco para estarem embarcando e desembarcando. Tem rumo."
Com todo o respeito a Sua Excelência, não parece. Parece é que o governo está igualzinho a um barco em mar revolto: vai para um lado, vai para o outro, sacode, faz água, tira água, embarca um, desembarca outro, muitos enjoam, os outros aproveitam. E ninguém se entende.
O pior é que não tem ainda um candidato único e forte para a sucessão presidencial de 2002. Ninguém aguenta mais e falta o mais importante: "Terra à vista!"



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