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Sabonetes e candidatos
CARLOS HEITOR CONY
RIO DE JANEIRO - Nada tenho contra ou a favor dos marqueteiros. São
necessários para convencer as massas, obrigando-as a usar um sabonete, uma pasta dental, frequentar um
restaurante e morar num condomínio fechado.
Longe de mim desejar-lhes mal, discutindo seus conselhos e esnobando
suas sugestões.
Acontece que, além de sabonetes e
dentifrícios, de uns tempos para cá
eles têm lançado no mercado um
produto estranhíssimo, em forma de
candidato presidencial.
Nada tenho também contra os sabonetes, os dentifrícios. Tampouco
tenho algo contra os candidatos presidenciais. São filhos de Deus ou do
diabo, como todos nós.
Produzir um deles com os mesmos
ingredientes com que se produz a
campanha de publicidade de um sabonete ou de um dentifrício é um desafio técnico, que os marqueteiros
procuram vencer.
Não é por aí que nasce a minha estranheza. O diferencial entre o sabonete/dentifrício e o candidato presidencial é que os sabonetes/dentifrícios são o que são, com tais e tais qualidades, desde o perfume, a eficácia e
o preço.
Já os candidatos presidenciais, produzidos pelos marqueteiros, são obrigados a mudar de perfume, a exagerar a eficácia e a aumentar o preço
que será oferecido ao consumidor.
Fiquemos no perfume dos sabonetes. Antigamente, a indústria vendia
perfumes que todos identificávamos:
rosa, sândalo, cravo, violeta, jasmim,
alfazema etc. Mais tarde, os químicos
bolaram outras essências e os marqueteiros definiram esses perfumes
com conceitos abstratos: cheiro de
emoção, perfídia, sedução, intriga,
entrega.
Na deformação profissional da
classe, os candidatos presidenciais,
que antes eram isso ou aquilo, estão
se transformando em abstrações, como os sabonetes e dentifrícios.
PS) O cronista entra em férias e sai
de circulação.
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