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VINICIUS TORRES FREIRE
José Serra
SÃO PAULO - Não é pouco para um país como o Brasil ter disposto de
duas boas candidaturas a presidente
-um país tão reacionário e ignorante, do povo sem instrução à elite, na
maioria tão ignara de bom gosto, conhecimentos e civilização. Os finalistas eram tão bons que a gente até fica
tentada a imaginar que o país vai
mudar mesmo. Mas líderes políticos
são apenas parte da história.
É exagero dizer que Serra perdeu a
eleição devido a suas qualidades, o
que é negado por desafetos medíocres. De resto, Serra e equipe estavam
mais prontos para governar; o PT,
enfim, só deixou de lado o besteirol
econômico anteontem.
Serra perdeu por ser o candidato de
um governo que mais nada tinha a
oferecer após o fim da inflação, a
mentira do real forte, o racionamento. De um governo que cansou.
Mas o tucano de esquerda perdeu
apoio entre seus pares e a eleição da
"brasilidade". Manemolência, emocionalismo, carnavalização e populismo e Serra não combinam. Ele
exagera, certo. Parece autoritário. É
arrogante, diz gente menor (arrogância se enfrenta dobrando a aposta do
arrogante, não com choramingo).
Uma vez estive com Serra no Ministério da Saúde. Vi gente trazer, meio
trêmula, papéis para o "senhor ministro". Pensei que eram contínuos
assustados. Eram burocratas assustados com exigências obsessivas de Serra. O Brasil não é muito acostumado
a racionalidade, eficiência. O Brasil
ainda é muito devagar e sempre.
Serra não é lá muito jeitoso. Vi em
1996 os sorrisos-muxoxos que distribuía na campanha para prefeito. No
final de uma entrevista, no Natal de
2001, disse-lhe que a economia e a
sua cintura dura iriam derrotá-lo.
Retrucou que não mudaria.
Serra foi um dos primeiros a fazer
um governo prudente nas finanças,
na gestão de Franco Montoro em São
Paulo. É um economista capaz, que
pensa os problemas nacionais com a
própria cabeça, não com ortodoxias
de cartilha. É algo inábil e megalomaníaco. Mas é uma das melhores figuras públicas do país.
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