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FERNANDO RODRIGUES
Nova era, novo Lula
BRASÍLIA - Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito ontem presidente da
República. Inaugura um novo ciclo
na política brasileira. A democracia é
plena. Ele próprio é um novo Lula.
"Eu mudei, o PT mudou, o Brasil
mudou" foi sua emblemática frase-síntese durante a campanha.
A mudança é de atitude. Vigora no
PT uma política mais porosa. Aceita-se quem é diferente. "O meu governo
será um governo de paz, sem mágoas
e sem rancores, e terá como marca registrada o entendimento e a negociação", tem prometido Lula.
Se vingar a promessa, será uma
guinada maiúscula do PT. Eis o que
disse Lula depois das suas três derrotas presidenciais:
Em 89: "Eu não perdi. O Brasil perdeu a oportunidade de ter alguém
que tenha a verdade nos olhos. Sou
oposição intransigente".
Em 94: "O PT não está procurando
carniça [sobre participar do governo
FHC]. Eu não vejo nenhuma possibilidade de uma pessoa que defende o
que eu defendo participar de qualquer governo em aliança com o PFL,
PTB e adjacências".
Em 98: "Seremos implacáveis. Fernando Henrique não se fez respeitar
na campanha eleitoral e não tem
condições morais de falar em pacto
ou negociação".
É impossível predizer se o atalho tomado em direção ao centro fará do
governo Lula apenas uma cópia
avermelhada do que foi o de FHC.
Também é difícil precisar todas as
razões que levaram tantos integrantes das elites antes criticadas pelo PT
a apoiar Lula com tanto vigor neste
início de século 21. Seria classificado
de tolo quem vaticinasse há alguns
anos que ACM, Sarney, Quércia e
Maluf estariam a favor do presidenciável petista numa eleição.
Com ou sem a direita, não se deve
julgar um governo que ainda não começou. Só será possível dar um veredicto sobre a administração Lula no
futuro. Mas nunca foi tão atual a surrada frase de Giuseppe Tomasi di
Lampedusa, em "O Leopardo": "Se
queremos que tudo permaneça como
está, é preciso que tudo mude".
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