São Paulo, segunda-feira, 28 de outubro de 2002

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BORIS FAUSTO

O papel da oposição

Lula presidente , o caminho que se abre para o PSDB e para os setores do PMDB e do PFL que apoiaram a candidatura Serra é o da oposição. Não é fácil mudar de postura, tendo-se em conta, entre outros fatores, que a linha de sustentação ao governo vem de muito longe.
Mas assumir a postura oposicionista tem muitas virtualidades, dentre elas a possibilidade de fortalecer as estruturas partidárias. Os oportunistas de toda índole vão inevitavelmente em busca de benesses ou de migalhas do poder, qualquer que seja seu detentor. Essa fatalidade de nossa vida política cria melhores condições para que se afirme a convicção ideológica, a coerência de posições, nas fileiras oposicionistas.
Esse é também, no meu entender, um excelente momento, sobretudo no que diz respeito ao PSDB, para que o partido reveja suas relações demasiado fluidas com a sociedade. O caminho de um maior enraizamento social não é fácil, mas absolutamente necessário, sobretudo em um país como o Brasil, em que as formas de sociabilidade vêm se modificando extraordinariamente. Para estabelecer, de início, laços mais profundos com um amplo setor de classe média, sem ignorar a massa popular, o PSDB não pode se limitar ao voto, por ocasião das eleições. Saber como proceder com esse objetivo é o desafio, sabidamente difícil, que hoje se abre.
Por outro lado, é preciso definir em que consiste uma atuação oposicionista digna, sem picuinhas, mas também sem concessões. O PT oferece aí um bom exemplo, às avessas. O partido que chega ao poder se opôs quase sistematicamente a medidas necessárias para o bem do país, apenas por terem para ele a "mácula de origem". Uma oposição madura não pode incidir na mesma atitude sectária. Nem fazem sentido anunciadas mesquinharias, talvez levadas à conta de brincadeira, como as de promover, no Congresso Nacional, projetos irrealistas, apresentados pela antiga oposição.
Admitidas todas as dificuldades na definição do que seja interesse nacional, a noção não é uma figura de retórica e, a meu ver, deve nortear a linha oposicionista. Nas grandes questões, será esse o parâmetro essencial para a tomada de decisões. Nem de longe, isso significa um convite à adesão, pois haverá um vasto campo de atuação, em defesa das instituições democráticas, na apresentação de propostas criativas e no combate a medidas governamentais, quando inaceitáveis.
Por último, não custa olhar para o futuro, não naquilo que ele tem de incerto, mas no que tem de certo. A alternância é da natureza do regime democrático, como acabamos de constatar. Dia mais dia menos, o PT e seus aliados deixarão o poder, por força do voto popular. Oxalá, no momento da transição, os vencedores de hoje se lembrem do comportamento do atual governo tucano que lhes deu todas as condições para que assumam o governo sem traumas e plenamente informados do "estado geral da nação".


Boris Fausto escreve às segundas-feiras nesta coluna.

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