São Paulo, segunda-feira, 28 de outubro de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Brilha uma estrela MARIA VICTORIA BENEVIDES
O político pra ser feliz
Lula tem as duas virtudes desse
cordel nordestino, a "vergonha na
cara", que define o caráter de um homem íntegro e cumpridor de sua palavra, e também a inegável vocação para a
liderança, a luta, o interesse público, a
defesa dos fracos, humilhados e ofendidos. Sua história de vida e empenho para conquistar o poder e nele atuar com
os ideais imorredouros da liberdade, da
igualdade e da solidariedade sempre deram o maior brilho à estrela petista.
Os próprios acusadores do "despreparo" serão os primeiros a dele exigir um desempenho de santo milagreiro. Essa será uma das primeiras armadilhas a serem desarmadas. Armadilha que é, de certo modo, a contrapartida do terrorismo eleitoral que sempre marcou as campanhas antipetistas. Vale a pena lembrar. Na campanha de 1989, empresários e políticos ditos "modernos" votam em Collor, mesmo sem confiar nele, tornando-se cúmplices da vileza contra o PT e seu candidato. Em 1994, Mário Amato vaticina que a vitória de Lula provocaria a debandada dos empresários do país. Em 1998, nova investida contra Lula ameaça com descrédito no exterior, fuga de capitais, violência no campo e nas cidades etc. A retórica do caos venceu todas, como uma espécie de "destino manifesto" do poder de nossas elites. E a classe média, refém do medo e da TV Globo, duas vezes referendou a contrafacção da social-democracia à moda tucana. Coitada, pagou -pagamos- a conta e pouco recebeu da mão espalmada do presidente sociólogo, que prometeu emprego, educação, saúde, segurança e reforma agrária. O povão continuou a comer o pão que o diabo amassou. Hoje tais recordações servem para vacinar os que ainda acreditam na eficácia do terrorismo eleitoral. Pela quarta vez, Lula enfrentou a velha satanização, mas conseguiu o apoio de ampla maioria do povo, para si e para seus candidatos nos Estados e para o Legislativo. Como isso foi possível? Creio que cinco pontos merecem destaque: O povo, profundamente insatisfeito com o governo de FHC, passou a acreditar que "uma mudança para melhor" era possível e que o risco da incerteza é preferível à estagnação com desemprego e falta de perspectivas; O povo aprendeu, a duríssimas penas, a confiar em alguém que veio também do povo, valorizando a ascensão de Lula com orgulho, o que não acontecia antes; As classes dominantes não conseguiram dirigir o processo eleitoral -tiveram que engolir, admiradas e ciumentas, a eficiente atuação das lideranças do PT e do próprio Lula no processo de ampliação de alianças "para o centro", com partidos, empresários, com as chamadas "forças vivas da nação", legitimando-se para conduzir democraticamente um necessário pacto social; O PT elaborou, com engenho e arte, um programa de governo com participação dos melhores especialistas do país e o transformou em linguagem acessível para público de rádio e TV; Líderes e militantes do PT conseguiram explicar a defesa dos direitos humanos, entendidos como direitos e liberdades individuais, mas também direitos sociais, econômicos e culturais. Lula respondeu à retórica do medo com otimismo e esperança, e é isso que todos querem, esperança na pátria amada, Brasil. Maria Victoria de Mesquita Benevides, 60, socióloga, é professora titular da Faculdade de Educação da USP e autora, entre outras obras, de "O Governo Kubitschek" e "A UDN e o Udenismo". Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Brasilio Sallum Jr.: De Lula a Luiz Inácio da Silva Índice |
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