São Paulo, Domingo, 28 de Novembro de 1999


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Os novos atores políticos


CLÓVIS ROSSI

Seattle - O que há de mais notável, até agora, para a Conferência Ministerial da OMC (Organização Mundial do Comércio), que em tese deve convocar a Rodada do Milênio, novo e abrangente ciclo de negociações comerciais, é a ausência de partidos políticos.
Política, aqui, está se fazendo por meio das ONGs (organizações não-governamentais), que crescentemente ocupam o espaço deixado vago pelo enfraquecimento dos partidos.
Artigo recente de Curtis Runyan, pesquisador da ONG Worldwatch Institute, lembra que, só nos EUA, há 2 milhões de ONGs, 70% das quais criadas nos últimos 30 anos. Diz também que o número de ONGs que atuam internacionalmente quadruplicou, no mesmo período, saltando de 5.000 para 20 mil.
Mais: "Em Bangladesh, é mais provável que uma criança aprenda com a assistência de uma das 5.000 ONGs que atuam em programas de alfabetização do que por meio de uma escola ou organização do Estado".
Ou seja, as ONGs não atropelaram apenas os partidos políticos, mas o próprio Estado.
No Brasil, Gilberto Dimenstein tem escrito, domingo após domingo, a respeito de idêntico fenômeno.
É bom ou ruim? Em princípio, bom, além de mais ou menos inexorável.
O diabo é que as ONGs, por definição, atomizam suas reivindicações. Há as que defendem o meio ambiente, as que cuidam da educação, as que dão assistência a aidéticos e por aí vai. Falta-lhes, igualmente por definição, um desenho abrangente do país que querem construir.
No mundo desenvolvido, tudo bem, que o desenho está pronto e basta aparar-lhe as arestas. Mas, no Brasil, ainda por fazer, os partidos é que deveriam tornar um todo abrangente as partes que as ONGs promovem.
De todo modo, são os novos atores da cena política. Pena que, na maioria, ainda sejam semiclandestinas aos olhos do grande público. Talvez por culpa nossa, dos jornalistas.


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