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Os novos atores políticos
CLÓVIS ROSSI
Seattle - O que há de mais notável,
até agora, para a Conferência Ministerial da OMC (Organização Mundial
do Comércio), que em tese deve convocar a Rodada do Milênio, novo e
abrangente ciclo de negociações comerciais, é a ausência de partidos políticos.
Política, aqui, está se fazendo por
meio das ONGs (organizações não-governamentais), que crescentemente
ocupam o espaço deixado vago pelo
enfraquecimento dos partidos.
Artigo recente de Curtis Runyan,
pesquisador da ONG Worldwatch Institute, lembra que, só nos EUA, há 2
milhões de ONGs, 70% das quais criadas nos últimos 30 anos. Diz também
que o número de ONGs que atuam internacionalmente quadruplicou, no
mesmo período, saltando de 5.000 para 20 mil.
Mais: "Em Bangladesh, é mais provável que uma criança aprenda com a
assistência de uma das 5.000 ONGs
que atuam em programas de alfabetização do que por meio de uma escola
ou organização do Estado".
Ou seja, as ONGs não atropelaram
apenas os partidos políticos, mas o
próprio Estado.
No Brasil, Gilberto Dimenstein tem
escrito, domingo após domingo, a respeito de idêntico fenômeno.
É bom ou ruim? Em princípio, bom,
além de mais ou menos inexorável.
O diabo é que as ONGs, por definição, atomizam suas reivindicações.
Há as que defendem o meio ambiente,
as que cuidam da educação, as que
dão assistência a aidéticos e por aí vai.
Falta-lhes, igualmente por definição,
um desenho abrangente do país que
querem construir.
No mundo desenvolvido, tudo bem,
que o desenho está pronto e basta aparar-lhe as arestas. Mas, no Brasil, ainda por fazer, os partidos é que deveriam tornar um todo abrangente as
partes que as ONGs promovem.
De todo modo, são os novos atores
da cena política. Pena que, na maioria, ainda sejam semiclandestinas aos
olhos do grande público. Talvez por
culpa nossa, dos jornalistas.
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