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MARCELO BERABA
Um grito desesperado
RIO DE JANEIRO - A promotora Rosemary Souto Maior Almeida, do Ministério Público de Pernambuco, não
quer morrer. Nesta semana, ela recebeu mais uma ameaça explícita, por
escrito: ou abandona a comarca de
Itambé, na fronteira com a Paraíba,
onde investiga a ação de grupos de
extermínio ligados ao crime organizado, ou pode se considerar morta.
Ela não esconde o medo. "Deus sabe até quando vou aguentar. A situação está muito grave, é muita gente
poderosa envolvida. Não quero ser a
salvadora do mundo. Tenho cumprido minhas responsabilidades e não
pretendo sair sem terminar meu trabalho. Mas não quero morrer."
Ela teme ter o mesmo fim do promotor Francisco José Lins do Rêgo
Santos, assassinado por um motoqueiro, em BH, em janeiro de 2002, a
mando da máfia dos combustíveis.
Mesmo com segurança 24 horas por
dias, sente-se vulnerável. O agricultor
Flávio Manoel da Silva foi morto em
setembro, cinco dias depois de prestar
depoimento à relatora da ONU para
Execuções Sumárias, Asma Jahangir.
A providência que a promotora pede não é apenas mais segurança, mas
uma ação efetiva dos governos para
desbaratar as organizações criminosas que agem na região. Na sua opinião, só uma força-tarefa dirigida pela Polícia Federal e constituída por
vários organismos oficiais poderá
atingir o coração do crime.
"A única forma de deter os grupos
de matadores que trabalham para o
crime organizado é atingindo os financiadores." E isso é tarefa para a
PF, para a Receita e para uma ação
policial investigativa imediata, como
ocorreu no Espírito Santo.
Há a promessa de que a Secretaria
Especial dos Direitos Humanos faça
uma reunião no dia 4 com os ministérios públicos Estadual e Federal para pensar uma ação conjunta. Enquanto isso não ocorre, fica a pergunta angustiada da promotora: "Será
que vou ter de morrer para que sejam
tomadas providências?".
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