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São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 2003

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MARCELO BERABA

Um grito desesperado

RIO DE JANEIRO - A promotora Rosemary Souto Maior Almeida, do Ministério Público de Pernambuco, não quer morrer. Nesta semana, ela recebeu mais uma ameaça explícita, por escrito: ou abandona a comarca de Itambé, na fronteira com a Paraíba, onde investiga a ação de grupos de extermínio ligados ao crime organizado, ou pode se considerar morta.
Ela não esconde o medo. "Deus sabe até quando vou aguentar. A situação está muito grave, é muita gente poderosa envolvida. Não quero ser a salvadora do mundo. Tenho cumprido minhas responsabilidades e não pretendo sair sem terminar meu trabalho. Mas não quero morrer."
Ela teme ter o mesmo fim do promotor Francisco José Lins do Rêgo Santos, assassinado por um motoqueiro, em BH, em janeiro de 2002, a mando da máfia dos combustíveis. Mesmo com segurança 24 horas por dias, sente-se vulnerável. O agricultor Flávio Manoel da Silva foi morto em setembro, cinco dias depois de prestar depoimento à relatora da ONU para Execuções Sumárias, Asma Jahangir.
A providência que a promotora pede não é apenas mais segurança, mas uma ação efetiva dos governos para desbaratar as organizações criminosas que agem na região. Na sua opinião, só uma força-tarefa dirigida pela Polícia Federal e constituída por vários organismos oficiais poderá atingir o coração do crime.
"A única forma de deter os grupos de matadores que trabalham para o crime organizado é atingindo os financiadores." E isso é tarefa para a PF, para a Receita e para uma ação policial investigativa imediata, como ocorreu no Espírito Santo.
Há a promessa de que a Secretaria Especial dos Direitos Humanos faça uma reunião no dia 4 com os ministérios públicos Estadual e Federal para pensar uma ação conjunta. Enquanto isso não ocorre, fica a pergunta angustiada da promotora: "Será que vou ter de morrer para que sejam tomadas providências?".


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