São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 1997.



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Um diploma anacrônico

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Um dos debates mais quentes de 97 foi sobre os abusos da mídia.
A morte da princesa Diana marcou o ápice do debate. Até que ponto podem jornalistas se meter na vida privada das pessoas?
Aqui no Brasil, o governo tucano reclama da imprensa. Jornalistas que continuam a mostrar o terceiro-mundismo do país estariam prestando um desserviço à nação. Inventou-se até uma expressão: fracassomania.
No Congresso, houve um momento em que uma nova lei de imprensa quase foi aprovada. Queriam acabar com a liberdade de expressão. Multas altas levariam à falência a maioria das empresas de comunicação.
Por sorte, o projeto continua encalacrado nos trâmites legislativos e nas vontades dos parlamentares -esses, ávidos para tirar uma casquinha dos jornalistas que não os deixam negociar seus votos com tranquilidade.
O curioso disso tudo é que ficou abafada um antiga discussão sobre a obrigatoriedade do diploma universitário (curso de comunicação social) para o exercício da profissão de jornalista.
Acabar com essa exigência anacrônica é um dos primeiros passos para melhorar o que é produzido por jornais, rádios e TVs.
Profissão diversa da de médico e de engenheiro, entre outras, a de jornalista não coloca em risco a vida das pessoas. Médico não pode errar durante uma operação. Já um jornalista escreve "essessão" e ninguém morre.
Ainda assim, as empresas de comunicação no país são obrigadas a contratar jornalistas apenas entre os estudantes que passam quatro anos aprendendo história da imprensa e teoria da comunicação -e, muita vezes, não sabem regra de três.
É claro que os cursos de jornalismo são úteis. Nada contra. Mas não são essenciais para o exercício da profissão. Os jornais ganhariam muito se as redações pudessem ser povoadas por mais médicos, engenheiros, filósofos e historiadores.
Só que esse é o tipo de discussão complicada, da qual os parlamentares querem fugir. Afinal, é duro combater um cartório tão forte como o dos jornalistas da academia.







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