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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Nem vai nem racha
SÃO PAULO - Não é preciso ler
nas entrelinhas ou saber pescar em
águas profundas para fisgar o traço
esquizofrênico do governo Lula.
Pudemos vê-lo hiperexposto na semana que passou, até ser condensado na sexta, de forma involuntária,
pela frase de efeito do presidente:
"Ou vai ou racha" -soltou Lula em
Davos, como se clamasse pelo crescimento no templo dos negócios.
Do anúncio do PAC na segunda
-vai!- à decisão sobre os juros na
quarta -racha!- deve-se deduzir o
quê? Primeiro, que as duas orientações, obviamente conflitantes, são
obra do mesmo senhor, embora Lula procure se abraçar ao pacote e
transferir o ônus da decisão do Copom a instâncias misteriosamente
técnicas, alheias à vontade do governo. Cascata ideológica, é claro.
Deve-se deduzir ainda que, sob o
2º Lula, o país nem vai nem racha. O
êxito ou a frustração (mais provável) serão suaves, doces, brasileiros.
O presidente gosta do chavão futebolístico -não se mexe em time
que está ganhando. O estilo de jogo
do governo traduz isso: é amarrado,
de modo que, para cada aposta, parece haver uma contrapartida, ambas submetidas ao princípio da prudência, cujo ponto de fuga é a sobrevivência do próprio Lula -ou o seu
pânico de pisar em falso e tropeçar.
Lula é conservador e sobretudo
conciliador. O seu PAC, um arremedo de programa, resulta menos de
propósitos firmes, convicções elaboradas e objetivos definidos do
que da pressão difusa em torno do
senso comum de que é preciso crescer. Na sua origem não havia nada
além de um número mágico -5%.
O plano vem exprimir, naquilo
que junta meio a esmo e naquilo
que recusa, os apetites e os limites
de uma coalizão política balofa,
muito heterogênea e quase toda habituada às benesses fisiológicas.
Feitas as contas, o segundo tempo de Lula parece empurrar o Brasil
para a frente, mas com a barriga.
Talvez estejamos vendo a expansão
do Estado assistencialista sob a miragem de termos nos reencontrado
com o desenvolvimentismo.
Este colunista entra em férias.
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