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CLÓVIS ROSSI
A pedagogia da rua
LONDRES - Por imposição industrial, escrevo antes de que termine a
manifestação de ontem no Hyde
Park, a primeira do que pretende
ser uma série de protestos contra a
cúpula do G20 e contra a crise. O lema geral de ontem (na semana que
vem, é outro o grito) era "Put People First" ou, em livre tradução, "As
pessoas em primeiro lugar".
Pena que as pessoas -ao menos
as que se engajam no rico caleidoscópio de entidades da sociedade civil que anima esses movimentos-
estejam sendo colocadas não em
primeiro lugar nem em segundo
nem mesmo em último. Foram
simplesmente expulsas do mundo
político "mainstream". E também
da mídia "mainstream".
A superestrutura política virou
um dueto monocórdico, com perdão da contradição em termos. É
democratas x republicanos nos Estados Unidos, conservadores x trabalhistas no Reino Unido, social-democratas x democrata-cristãos
na Alemanha, PT x PSDB no Brasil
-todos brancos e de olhos azuis,
para usar a metáfora de Lula, embora muito petista se ache preto ou índio. Pura demagogia.
Criou-se um déficit democrático
em que outras vozes não entram
talvez porque digam verdades incômodas. Ou entram apenas para terem suas verdades apropriadas pela
corrente principal, como já aconteceu com a mudança climática e repete-se com a crise.
Esse pessoalzinho, em geral simpático, mas às vezes agressivo demais, dizia faz tempo que o modelo
era intolerável. Agora, Paul Krugman, Nobel de Economia e como tal
perfeito "mainstream", decreta "o
fracasso de todo um modelo de banca, de um setor financeiro que cresceu demais e causou mais dano que
bem".
É óbvio que nem sempre esses
movimentos têm razão. Mas, hoje
por hoje, é possível aprender mais
na rua, mesmo sob a chuva fina e o
friozinho bem londrinos, do que
nos gabinetes.
crossi@uol.com.br
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