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ELIANE CANTANHÊDE
"Olhos azuis", o surto chavista
VIÑA DEL MAR - Ser "branca
azeda" foi um pesadelo de gerações
de adolescentes brasileiras. Passavam horas sob o sol escaldante, sem
filtro (nem existia), e tudo o que
conseguiam era uma vermelhidão
de doer, descascar dos pés à cabeça
e, no meu caso, centenas de pintas
no corpo e três cânceres na cara.
Não tenho culpa de não ser um
Michael Jackson às avessas nem
por crise nenhuma, muito menos
pela maior crise econômica mundial desde a Segunda Guerra. Nem
eu nem milhões de cidadãos que
não são negros, nem índios, e condenam o racismo com igual veemência. Todo racismo.
Lula perdeu uma bela chance de
ficar calado, ao culpar os "brancos
de olhos azuis" pela crise. E justamente ao lado do primeiro-ministro britânico Gordon Brown -que,
segundo a imprensa londrina, ficou
"constrangido".
Poderia ser só mais uma brincadeirinha errada, na hora errada e
com a pessoa errada, não fosse o
chavismo que há nela e que remete
a outros episódios. Lembra do discurso de Lula na Namíbia, "tão limpinha que nem parece a África"? E
do "ponto G" na entrevista ao lado
de Bush? E do "pepino" depois do
encontro com Obama?
As metáforas futebolísticas rendem pontos para Lula nas pesquisas no Brasil. Mas expressões de caráter sexista e de incitação racista
diante de outros governantes e sob
holofotes internacionais soam ridículas, coisa para Chávez e Evo Morales, de países rachados ao meio e
em crise. Não é o caso do Brasil, que
tem estabilidade, almeja uma vaga
no conselho permanente da ONU e
quer falar de igual para igual no G20
nesta semana.
A frase de Lula parece inocente,
mas reflete um preconceito de alma
contra "brancos de olhos azuis" e
recicla o lance marqueteiro de eleger um inimigo comum para mobilizar a massa: a tal "elite branca",
que não aceita o pobre migrante
nordestino porque é (ou foi, há décadas) migrante nordestino. Não é
coisa de Chávez?
elianec@uol.com.br
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