São Paulo, terça, 29 de abril de 1997.

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A roda da fortuna

CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - São evidentes os sinais de que a roda da fortuna começa a girar para o governo em geral e para o presidente da República em particular. Há um núcleo, localizado meio aleatoriamente em São Paulo, que ainda considera FHC um eleito dos deuses, um novo Tito, que era ``a delícia do gênero humano''. Mas no resto do país, em que pese a popularidade do Plano Real que ainda prevalece, o desconfiômetro começa a funcionar.
Afinal, tudo o que há de bom no país é obra dele. Tudo o que é ruim é obra dos outros. Sua verborragia começa a cansar. A própria classe política, que funciona como limalha de ferro para melhor ser atraída pelo imã central, parece exausta de acreditar nele.
Afinal, os políticos vivem de suas bases e essas estão inquietas com o desemprego, com a quebra da espinha dorsal nas relações do trabalho e, até mesmo, com esse tal ``tamanho do Estado'', que passou a ser a besta negra dos neoliberais que estão no poder.
A maioria dos brasileiros elegeu um candidato de mão espalmada que resumia seu programa de ação em torno de cinco prioridades fundamentais: educação, saúde, emprego, segurança e, se não me engano, casa ou terra.
Em nenhum momento de seu convívio eleitoral com o povo FHC falou em reeleição, em venda da Vale do Rio Doce, em ajuda aos bancos mal ou fraudulentamente administrados, em tamanho do Estado. Por escolha pessoal dele, seu modelo mais ostensivo foi JK, que não prometeu emprego, mas transformou o Brasil num canteiro de obras que mudou a nossa história e alegrou a alma do nosso povo.
Até agora, só vimos o presidente realmente preocupado com alguma coisa quando se tratou da emenda que permitirá sua reeleição. Vencida essa etapa, FHC distribui elogios para si mesmo e críticas para os que não vão no seu blablablá. Uma facúndia que, além de cansar, começa a se voltar contra ele.

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