São Paulo, sábado, 29 de abril de 2000


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A pseudocrise do mínimo

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - É falsa e exagerada essa tal crise no Congresso por causa da não-votação da medida provisória do salário mínimo nesta semana.
É evidente que o governo jogou de forma torpe contra a oposição. Fez um acordo público para votar o novo salário mínimo na quarta-feira passada. Não cumpriu.
Mas esse tipo de comportamento antiético do governo FHC não é novo. Muito pelo contrário. É a praxe no Congresso.
Aliás, vale registrar, no dia 13 de maio completam-se três anos do escândalo da compra de votos a favor da emenda da reeleição. Deputados confessaram ter vendido seus votos por R$ 200 mil. Ninguém foi punido. Nunca houve investigação para valer.
No caso do salário mínimo, a oposição está esperneando. Com razão. Ameaça obstruir tudo daqui para a frente. Tudo, o quê? Não há nada que preocupe o governo dentro do Congresso atualmente. Aliás, quando o Congresso fica parado, sem votar, é motivo da maior felicidade dentro do Palácio do Planalto.
O caminho natural dessa pseudocrise parece já estar traçado. O humilhado líder do governo no Congresso, Arthur Virgílio (fiador do acordo não cumprido), está prometendo votar a MP do salário mínimo no próximo dia 10 de maio.
Se houver mesmo a votação, é porque tudo estará acertado. Com uma lista de cargos na mão e uma caneta na outra, representantes de FHC conversarão com seus deputados e senadores. Haverá convencimento imediato.
Para edulcorar a situação, alguns governistas pretendem incluir na MP do salário mínimo a possibilidade de aumento real, acima da inflação, nos próximos dois anos. Desde que isso não prejudique as metas fiscais do país. Ou seja, uma bobagem que não quer dizer nada.
O salário mínimo será mesmo de R$ 151. O governo amargará impopularidade por uns dois meses. Tudo voltará ao normal depois. Tem sido sempre assim. Há 500 anos. E assim parece que sempre será neste país cordial.


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