|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
A pseudocrise do mínimo
FERNANDO RODRIGUES
Brasília - É falsa e exagerada essa tal
crise no Congresso por causa da não-votação da medida provisória do salário mínimo nesta semana.
É evidente que o governo jogou de
forma torpe contra a oposição. Fez um
acordo público para votar o novo salário mínimo na quarta-feira passada.
Não cumpriu.
Mas esse tipo de comportamento antiético do governo FHC não é novo.
Muito pelo contrário. É a praxe no
Congresso.
Aliás, vale registrar, no dia 13 de
maio completam-se três anos do escândalo da compra de votos a favor da
emenda da reeleição. Deputados confessaram ter vendido seus votos por R$
200 mil. Ninguém foi punido. Nunca
houve investigação para valer.
No caso do salário mínimo, a oposição está esperneando. Com razão.
Ameaça obstruir tudo daqui para a
frente. Tudo, o quê? Não há nada que
preocupe o governo dentro do Congresso atualmente. Aliás, quando o
Congresso fica parado, sem votar, é
motivo da maior felicidade dentro do
Palácio do Planalto.
O caminho natural dessa pseudocrise parece já estar traçado. O humilhado líder do governo no Congresso, Arthur Virgílio (fiador do acordo não
cumprido), está prometendo votar a
MP do salário mínimo no próximo dia
10 de maio.
Se houver mesmo a votação, é porque tudo estará acertado. Com uma
lista de cargos na mão e uma caneta
na outra, representantes de FHC conversarão com seus deputados e senadores. Haverá convencimento imediato.
Para edulcorar a situação, alguns
governistas pretendem incluir na MP
do salário mínimo a possibilidade de
aumento real, acima da inflação, nos
próximos dois anos. Desde que isso
não prejudique as metas fiscais do
país. Ou seja, uma bobagem que não
quer dizer nada.
O salário mínimo será mesmo de R$
151. O governo amargará impopularidade por uns dois meses. Tudo voltará
ao normal depois. Tem sido sempre
assim. Há 500 anos. E assim parece
que sempre será neste país cordial.
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: Inquisição e colônia Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: O descanso do guerreiro Índice
|