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CLÓVIS ROSSI
O difícil e o impossível
SÃO PAULO - A propósito do texto publicado ontem neste espaço, sobre
a necessidade de um grande sonho
para fazer um grande país, o leitor
Eduardo Gabor manda a seguinte
frase de David Ben Gurion, o estadista judeu que foi o maior responsável
pela criação do Estado de Israel: "O
difícil a gente faz imediatamente. O
impossível leva um pouco mais de
tempo".
Compare, por favor, com a seguinte
frase de Luiz Inácio Lula da Silva: "O
governo tenta fazer o simples, porque
o difícil é difícil" (discurso na 1ª Conferência Nacional do Esporte, em 17
de junho de 2004).
Agora compare os contextos: Ben
Gurion soltou sua frase numa época
em que os judeus haviam sido exterminados pelo Holocausto (ainda hoje, o Estado de Israel tem menos habitantes do que o número de mortos
nos anos 40 do século passado).
Época também em que começavam
a construir o Estado judeu, num território pequeno, não exatamente
abençoado em recursos naturais e
cercado de inimigos por todos os lados (ainda hoje, Israel está tecnicamente em guerra com dois de seus
quatro vizinhos).
Nem precisaria dizer as vantagens
teóricas do Brasil, mas não custa dar
a palavra a outro leitor, Edwin Lima,
salvadorenho que estudou no Brasil,
vive em Amsterdã (Holanda) e está
de passagem pelo país: "Não é possível que um país celeiro do mundo,
maior fornecedor de commodities,
com as maiores reservas naturais do
planeta, com uma das maiores economias do mundo, se veja reduzido a
apenas dois fatores: governo e gestão
da dívida".
Faltou dizer que, nesta revisita ao
país, Lima diz que "nada parece ter
mudado, ou, se mudou, só não foi para melhor".
Faltou também dizer que a culpa
não é só dos governos sucessivos, segundo o leitor Carlos Hugo Sgarbi.
"O Brasil e os brasileiros são iguais ao
alfaiate do interior: medem grande e
cortam curto", escreve.
Se alguém descobrir um alfaiate tipo Ben Gurion por aí, avise a mim e
aos leitores citados.
@ - crossi@uol.com.br
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