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FERNANDO RODRIGUES
O valor da transparência
BRASÍLIA - Dois casos suspeitos de mau uso do dinheiro público ficaram
conhecidos nos últimos dias.
Na Câmara, deputados gastam somas astronômicas em gasolina. No
Rio, o pré-candidato do PMDB a presidente Anthony Garotinho recebe
doações vultosas de empresas relacionadas a prestadores de serviços ao
governo fluminense.
Os episódios são de natureza diversa, mas têm uma gênese semelhante.
A Câmara e Garotinho colocaram,
por decisão própria, na internet as
informações contra si mesmos.
Quando foi presidida por João Paulo Cunha (PT-SP), em 2003 e 2004, a
Câmara seguiu uma tradição e recusou-se a apresentar as notas fiscais
individuais das despesas de seus 513
integrantes. O petista, entretanto, cedeu parcialmente. Passou a expor na
internet os valores globais gastos pelos deputados em gasolina e consultoria, entre outros itens. Para ler, basta acessar www.camara.gov.br e clicar no link "Transparência".
No caso de Garotinho, o político
fluminense sentiu-se obrigado a dizer
de onde retirava dinheiro para fazer
sua pré-campanha. Foi acusado de
gastar milhões de origem incerta.
Respondeu colocando na internet
sua lista de doadores. Talvez imaginasse que encerraria o assunto.
A mídia olhou com cuidado os dados da Câmara e de Garotinho. Encontrou fatos a serem reportados.
Não houve invasão de privacidade,
pois eram informações públicas.
Há algo de positivo nesses dois casos. O valor da transparência nas atividades políticas ficou evidenciado.
Em 1913, o juiz da Suprema Corte dos
Estados Unidos Louis Brandeis cunhou uma frase que sintetiza o ocorrido agora no Brasil: "A luz do Sol é o
melhor desinfetante".
É difícil esconder malfeitos quando
existe acesso livre e facilitado a informações de caráter público. É pena essa abertura de dados ocorrer mais
por obra do acaso e das pressões do
que por convicção dos políticos. Com
a Câmara e com Garotinho, independentemente da motivação real, o resultado foi bom para o país.
@ - frodriguesbsb@uol.com.br
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