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CLÓVIS ROSSI
Não creio em bruxas, mas...
SÃO PAULO - Se tivesse sobrevivido para ver a crise-2008, tenho a
sensação de que o velho sábio que
habitava esta Folha repetiria, todos
os dias, a todas as horas, sua tese de
que viveu o suficiente para ver tudo
acontecer e seu contrário também.
Em turbulências anteriores,
brinquei com ele mais de uma vez
dizendo que era a "crise final do capitalismo", essa que a esquerda
passou a vida esperando, para acabar vendo acontecer o oposto, a crise final do comunismo.
Não é que agora, a idéia de "crise
final" reaparece? Está no "Monde"
de ontem, em um texto que abre falando do euro a US$ 1,60, do barril
de petróleo perto de US$ 120, dos
preços mundiais da alimentação
em alta de 40% em um ano, das
perdas do sistema financeiro
(quantas exatamente?) e por aí vai.
De repente, aparece um certo
Pierre Bezbakh, mestre da Universidade Paris-Dauphine, cujos trabalhos foram, em parte, sobre a história das crises, para dizer o seguinte: "O capitalismo não está mais em
via de desenvolvimento, mas em
via de conclusão". Forte, não? De
todo modo, a frase seguinte tem
sentido: "As potências ocidentais
não podem mais fazer os outros
países pagarem o custo da crise, como o fizeram em 1929 por meio da
redução do preço de matérias-primas".
Não creio que o capitalismo esteja se acabando, mas reina, sem dúvida, a maior confusão pelo menos
entre os analistas. Suspeito de que
ninguém sabe direito o que está
acontecendo e, por extensão, como
vai terminar a história.
O fato é que a Comissão Européia
previu ontem que a inflação da zona do euro irá a 3,2% neste ano
contra os 2,1% de 2007. Ou seja, vai
aumentar 52%. E o crescimento vai
cair de 2,5% para magro 1,7%.
Não é bem o fim do capitalismo,
mas é o mais perto a que se chegou
de estagflação desde que o comunismo morreu, certo?
crossi@uol.com.br
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