São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 2008

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CLÓVIS ROSSI

Não creio em bruxas, mas...

SÃO PAULO - Se tivesse sobrevivido para ver a crise-2008, tenho a sensação de que o velho sábio que habitava esta Folha repetiria, todos os dias, a todas as horas, sua tese de que viveu o suficiente para ver tudo acontecer e seu contrário também.
Em turbulências anteriores, brinquei com ele mais de uma vez dizendo que era a "crise final do capitalismo", essa que a esquerda passou a vida esperando, para acabar vendo acontecer o oposto, a crise final do comunismo.
Não é que agora, a idéia de "crise final" reaparece? Está no "Monde" de ontem, em um texto que abre falando do euro a US$ 1,60, do barril de petróleo perto de US$ 120, dos preços mundiais da alimentação em alta de 40% em um ano, das perdas do sistema financeiro (quantas exatamente?) e por aí vai.
De repente, aparece um certo Pierre Bezbakh, mestre da Universidade Paris-Dauphine, cujos trabalhos foram, em parte, sobre a história das crises, para dizer o seguinte: "O capitalismo não está mais em via de desenvolvimento, mas em via de conclusão". Forte, não? De todo modo, a frase seguinte tem sentido: "As potências ocidentais não podem mais fazer os outros países pagarem o custo da crise, como o fizeram em 1929 por meio da redução do preço de matérias-primas".
Não creio que o capitalismo esteja se acabando, mas reina, sem dúvida, a maior confusão pelo menos entre os analistas. Suspeito de que ninguém sabe direito o que está acontecendo e, por extensão, como vai terminar a história.
O fato é que a Comissão Européia previu ontem que a inflação da zona do euro irá a 3,2% neste ano contra os 2,1% de 2007. Ou seja, vai aumentar 52%. E o crescimento vai cair de 2,5% para magro 1,7%.
Não é bem o fim do capitalismo, mas é o mais perto a que se chegou de estagflação desde que o comunismo morreu, certo?


crossi@uol.com.br

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