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Telecurso: uma pedagogia do nosso tempo
CARLOS EDUARDO MOREIRA FERREIRA
No telecurso, os alunos se apropriam do conhecimento de forma ativa e voluntária, permitindo a personalização do seu percurso
COM A convicção de que, em matéria de educação, tratar desiguais de forma igual é perpetuar
desigualdades, participei do lançamento do Novo Telecurso, no dia 24
de março, na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Em passado recente, encerrada
uma reunião, retornei ao táxi que me
aguardava e nele encontrei o motorista cochilando, tendo nas mãos um livro de química do ensino médio.
Perto dos 30 anos de idade, buscando "mudar de emprego e melhorar de
vida", relatou-me que, não tendo tido
sucesso naquela matéria, cursava pela
terceira vez a segunda série do ensino
médio, em uma escola pública da periferia de São Paulo. Lamentava a
norma que o obrigava a freqüentar todas as demais disciplinas daquela série pela terceira vez, mesmo tendo sido nelas considerado apto. Afinal, só
não havia concluído aquela série em
razão das dificuldades em química.
Esse motorista engrossa a taxa de
distorção idade-série, que, no ensino
médio, é, hoje, de 46,3%, sem contar
os milhares de brasileiros que da escola foram excluídos.
Há um entendimento generalizado
de que a sociedade e o governo têm tido dificuldade em conciliar o ensino
de massa com o ensino de elite.
Se alguns indicadores colocam a
educação brasileira de qualidade como um raro privilégio para poucos (e,
nesse sentido, o nosso elitismo se estende até a educação infantil), por outro lado, ministra-se o mesmo ensino
à grande maioria dos alunos assalariados do noturno e aos alunos com
disponibilidade exclusiva para o estudo no turno diurno. O tempo, as disciplinas, o período letivo, enfim, a estrutura e o funcionamento da escola
atingem a todos do mesmo modo.
De maneira que, diante de um tratamento escolar idêntico, as diferenças se transformam em desigualdades, de tal forma que o arcabouço regulatório da igualdade resulta na perpetuação da desigualdade.
Nesse contexto de um sistema educacional em que a qualidade e a quantidade são dimensões excludentes,
que enfrenta os desafios, entre outros, da aceleração dos estudos e de
suprir a escolaridade de jovens e adultos que não a concluíram na idade
apropriada, situa-se e justifica-se o
telecurso -uma proposta pedagógica
que tem na experiência de vida e no
trabalho o ponto de partida e o referencial para novas aprendizagens.
Constitui-se, pois, em uma pedagogia diferenciada e organizadora de situações de aprendizagem variadas
(não pelo seu conteúdo, mas pelo processo), por meio das quais os alunos
apropriam-se do conhecimento de
uma forma ativa e voluntária, permitindo a construção da sua própria
progressão, ou seja, a personalização
do seu percurso. E, assim, no campo
educacional, as diferenças transformam-se em igualdades.
Desafio enfrentado pela vontade e
determinação da Fiesp, do Sesi (Serviço Social da Indústria), do Senai
(Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial) e da Fundação Roberto
Marinho, o telecurso possibilita aos
jovens e adultos a aquisição de saberes e competências exigidas pela sociedade contemporânea e a sua inserção no mundo do trabalho.
Ao valorizar mais a dimensão do ser
que a do ter, o telecurso se alicerça na
visão adequada da pessoa enquanto
ser orientado para processos e se
apóia na contextualização do ensino,
no desenvolvimento de um currículo
significativo e expressivo para o mundo do trabalho e das práticas sociais.
A ação educativa do Novo Telecurso configura-se como um diferencial
pelo que passa a fazer. Com todos os
programas legendados, além do uso
da língua brasileira de sinais, em
atenção às deficiências auditivas,
continuará fazendo melhor, depois de
ter os conteúdos da educação básica
atualizados, a inclusão da filosofia, da
sociologia, das artes plásticas e da
música no ensino médio e a adequação do telecurso profissionalizante
para equivalência ao ensino técnico.
Acesso garantido por meio da recepção livre pela TV Globo, Canal Futura, TVE, TV Cultura, Rede Vida, entre outras não menos importantes,
será sempre relevante o acesso ao Telecurso 2000 em recepção organizada
por meio de telessalas, com mediação
de um orientador de aprendizagem.
O Sistema Fiesp e a Fundação Roberto Marinho, parceiros desde 1995,
conceberam o telecurso e, após mais
de uma década, com a forte convicção
de que o sucesso não pode levar à acomodação, lançam o Novo Telecurso,
atualizando e ampliando uma metodologia diferenciada que favorece a
aprendizagem, privilegiando as situações típicas do mundo do trabalho e
do ambiente urbano, fazendo jus a um
raro certificado de produto nacional
-qualidade comprovada e reconhecida internacionalmente.
CARLOS EDUARDO MOREIRA FERREIRA, 69, é advogado. Foi presidente da Fiesp/Ciesp (1992-1998) e deputado federal pelo PFL-SP (1998-2002).
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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