São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 2008

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Telecurso: uma pedagogia do nosso tempo

CARLOS EDUARDO MOREIRA FERREIRA

No telecurso, os alunos se apropriam do conhecimento de forma ativa e voluntária, permitindo a personalização do seu percurso

COM A convicção de que, em matéria de educação, tratar desiguais de forma igual é perpetuar desigualdades, participei do lançamento do Novo Telecurso, no dia 24 de março, na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Em passado recente, encerrada uma reunião, retornei ao táxi que me aguardava e nele encontrei o motorista cochilando, tendo nas mãos um livro de química do ensino médio.
Perto dos 30 anos de idade, buscando "mudar de emprego e melhorar de vida", relatou-me que, não tendo tido sucesso naquela matéria, cursava pela terceira vez a segunda série do ensino médio, em uma escola pública da periferia de São Paulo. Lamentava a norma que o obrigava a freqüentar todas as demais disciplinas daquela série pela terceira vez, mesmo tendo sido nelas considerado apto. Afinal, só não havia concluído aquela série em razão das dificuldades em química.
Esse motorista engrossa a taxa de distorção idade-série, que, no ensino médio, é, hoje, de 46,3%, sem contar os milhares de brasileiros que da escola foram excluídos.
Há um entendimento generalizado de que a sociedade e o governo têm tido dificuldade em conciliar o ensino de massa com o ensino de elite.
Se alguns indicadores colocam a educação brasileira de qualidade como um raro privilégio para poucos (e, nesse sentido, o nosso elitismo se estende até a educação infantil), por outro lado, ministra-se o mesmo ensino à grande maioria dos alunos assalariados do noturno e aos alunos com disponibilidade exclusiva para o estudo no turno diurno. O tempo, as disciplinas, o período letivo, enfim, a estrutura e o funcionamento da escola atingem a todos do mesmo modo.
De maneira que, diante de um tratamento escolar idêntico, as diferenças se transformam em desigualdades, de tal forma que o arcabouço regulatório da igualdade resulta na perpetuação da desigualdade. Nesse contexto de um sistema educacional em que a qualidade e a quantidade são dimensões excludentes, que enfrenta os desafios, entre outros, da aceleração dos estudos e de suprir a escolaridade de jovens e adultos que não a concluíram na idade apropriada, situa-se e justifica-se o telecurso -uma proposta pedagógica que tem na experiência de vida e no trabalho o ponto de partida e o referencial para novas aprendizagens.
Constitui-se, pois, em uma pedagogia diferenciada e organizadora de situações de aprendizagem variadas (não pelo seu conteúdo, mas pelo processo), por meio das quais os alunos apropriam-se do conhecimento de uma forma ativa e voluntária, permitindo a construção da sua própria progressão, ou seja, a personalização do seu percurso. E, assim, no campo educacional, as diferenças transformam-se em igualdades.
Desafio enfrentado pela vontade e determinação da Fiesp, do Sesi (Serviço Social da Indústria), do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e da Fundação Roberto Marinho, o telecurso possibilita aos jovens e adultos a aquisição de saberes e competências exigidas pela sociedade contemporânea e a sua inserção no mundo do trabalho.
Ao valorizar mais a dimensão do ser que a do ter, o telecurso se alicerça na visão adequada da pessoa enquanto ser orientado para processos e se apóia na contextualização do ensino, no desenvolvimento de um currículo significativo e expressivo para o mundo do trabalho e das práticas sociais.
A ação educativa do Novo Telecurso configura-se como um diferencial pelo que passa a fazer. Com todos os programas legendados, além do uso da língua brasileira de sinais, em atenção às deficiências auditivas, continuará fazendo melhor, depois de ter os conteúdos da educação básica atualizados, a inclusão da filosofia, da sociologia, das artes plásticas e da música no ensino médio e a adequação do telecurso profissionalizante para equivalência ao ensino técnico.
Acesso garantido por meio da recepção livre pela TV Globo, Canal Futura, TVE, TV Cultura, Rede Vida, entre outras não menos importantes, será sempre relevante o acesso ao Telecurso 2000 em recepção organizada por meio de telessalas, com mediação de um orientador de aprendizagem.
O Sistema Fiesp e a Fundação Roberto Marinho, parceiros desde 1995, conceberam o telecurso e, após mais de uma década, com a forte convicção de que o sucesso não pode levar à acomodação, lançam o Novo Telecurso, atualizando e ampliando uma metodologia diferenciada que favorece a aprendizagem, privilegiando as situações típicas do mundo do trabalho e do ambiente urbano, fazendo jus a um raro certificado de produto nacional -qualidade comprovada e reconhecida internacionalmente.


CARLOS EDUARDO MOREIRA FERREIRA, 69, é advogado. Foi presidente da Fiesp/Ciesp (1992-1998) e deputado federal pelo PFL-SP (1998-2002).

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