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TENDÊNCIAS/DEBATES
A política externa do governo Lula é melhor do que a do governo FHC?
NÃO
Bye, bye, Primeiro Mundo
GILBERTO KASSAB
A política externa do governo
FHC rendeu ao Brasil o respeito do
Primeiro Mundo. A de Lula, porém, ressuscita o terceiro-mundismo dos discursos nacionalistas do século passado,
e com ela corremos o risco de perder tudo o que conquistamos. Essa é a grande
diferença. Para FHC, mais importante
do que integrar o Conselho de Segurança da ONU era ser convidado para uma
reunião do G7.
Não foi por acaso que Bill Clinton
convidou FHC para passar um fim de
semana em Camp David, em 1997
-aliás, o único brasileiro a ter esse privilégio. Na intimidade da casa de campo
do presidente dos EUA, a cena era a seguinte: Clinton bebia refrigerante da lata enquanto trocava confidências com
FHC. No sofá em frente, Hillary contava
a dona Ruth sobre sua viagem à África.
É difícil imaginar cena semelhante entre Lula e Tony Blair ou George W.
Bush. Mas é perfeitamente possível que
algo semelhante ocorra entre Lula e Hugo Chávez; talvez Fidel Castro. Ou,
quem sabe, Muammar Gaddafi.
Mesmo assim, toda vez que Lula desembarca no exterior, teima em reinventar nossa política externa, transformando-a num espetáculo de propaganda e frases de efeito. Puro pastel de vento. FHC, por sua vez, soube representar
o Brasil com competência, discrição e
profissionalismo, levando ao pé da letra
a máxima do barão do Rio Branco de
que "é possível que, renunciando à
igualdade de tratamento, alguns se resignem a assinar convenções em que sejam declarados e se confessem nações
de terceira, quarta ou quinta ordem. O
Brasil não pode ser desse número".
Hoje, Lula, que não aprendeu a lição
de Rio Branco, retalia os EUA, mandando tirar impressões digitais de turistas
americanos. Ontem, os diplomatas de
FHC travavam batalhas duríssimas na
OMC, contra Washington, para proteger das barreiras americanas os nossos
produtos. Apoiado pela União Européia, o Brasil derrotou os EUA no caso
da quebra de patentes para os medicamentos contra a Aids.
A política externa do governo passado
carimbou o passaporte do Brasil para
uma cadeira no conselho do Banco de
Compensações Internacionais (BIS), o
banco central dos bancos centrais do
mundo, com sede na Suíça, dando ao
país status jamais visto no âmbito da comunidade financeira internacional.
Uma das grandes vitórias da diplomacia da era FHC foi a criação de um grupo
composto pelas sete nações mais ricas
do mundo e as 15 principais entre as
emergentes. A partir desse grupo,
criou-se um canal permanente de diálogo e debate de idéias e reivindicações
em que o Brasil era ouvido e respeitado.
Em momento nenhum nossa política
externa perdeu a identidade ou deixou
de lado os ideais de democracia e defesa
dos direitos humanos. Quando o então
ministro das Relações Exteriores, Luiz
Felipe Lampreia, visitou Havana, em
1998, encontrou-se com o presidente da
Comissão de Direitos Humanos e Reconciliação de Cuba, Elizardo Sanchez.
Ao mesmo tempo em que criticou a intolerância da ditadura cubana em relação às liberdades individuais, o governo
FHC participou de programas de recuperação da economia cubana, abriu linhas de crédito para importação de alimentos brasileiros e condenou a política americana de sanções. Hoje, nosso
embaixador em Cuba, ex-presidente do
Sindicato dos Jornalistas de Minas, acha
normal jornalistas apodrecerem nos
cárceres de Havana.
O presidente Lula foi à China e anunciou um suposto acordo de cooperação
nuclear, cujo maior obstáculo para virar
realidade é nossa legislação. Ou o presidente foi mal orientado, ou foi precipitado, o que, do ponto de vista da política
internacional, é um erro crasso. Para os
chineses, essa visita ampliaria ainda
mais as relações entre Pequim e Brasília,
que tiveram seu auge no governo FHC.
Entre 2000 e 2001, o comércio entre Brasil e China dobrou e o primeiro satélite
sino-brasileiro da séria Cebris entrou
em órbita.
Porém o maior exemplo da influência
conquistada pelo Brasil aconteceu no
auge da crise entre China e EUA, quando um avião americano invadiu o espaço aéreo chinês e foi capturado. O presidente George W. Bush pediu a FHC que
interferisse para ajudar a solucionar o
impasse. Certamente, Bush agiu com
base na excelente imagem construída
pelo Brasil entre 1995 e 2002. Os principais institutos de pesquisa americanos
registraram que, ao final da década de
1990, 75% dos formadores de opinião
identificavam o Brasil como sendo um
dos países considerados vitais para os
EUA. Em 2000, sondagem da Universidade de Chicago concluiu que 71% dos
formadores de opinião acreditavam que
as empresas americanas deveriam continuar investindo no Brasil e 87% consideravam nosso país importante parceiro comercial. A política externa voltada
para a inserção do país no Primeiro
Mundo dera resultado.
É lamentável que o governo Lula despreze tais conquistas e empurre o Brasil
para a periferia dos centros de decisão.
Gilberto Kassab, 43, economista e engenheiro
civil, deputado federal pelo PFL-SP, é secretário
nacional do partido e presidente da Comissão de
Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática
da Câmara dos Deputados.
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