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LUIZ FERNANDO VIANNA
Cheiro de morte
RIO DE JANEIRO - Anthony Garotinho declarou anteontem seu
voto em Heloísa Helena. Não é provável que a senadora vá agradecer
comovida esse abraço de cascavel,
mas, se estiver pensando em fazê-lo, convém antes visitar Campos.
Por seis anos, Garotinho foi prefeito da cidade do norte fluminense: 1989-92 e 1997-98. Somando-se
aos quatro em que foi governador
(1999-2002) e aos quatro de sua
mulher, Rosinha Matheus (2003-2006), são 14 anos em que ele poderia ter melhorado a vida na cidade.
A morte de quatro crianças entre
24 de maio e 5 de julho levou a imprensa a dar uma olhada em Parque
Santa Rosa, bairro da periferia de
Campos. Os irmãos Carollainny, sete meses, e José Vítor, quatro anos,
eram vizinhos dos irmãos Jefferson, 8, e André Luís, 4, na rua Soldado Salvador Rosa.
O que atraiu a imprensa foi a falta
de explicação para as mortes. De
Carollainny, acredita-se em diabetes. Dos outros, ainda estão sendo
feitos exames. Eles só tiveram febre
baixa e sonolência antes de apagar
de repente.
Não se sabe a causa médica, mas a
social é gritante. As casas não têm
água encanada nem saneamento
básico. Em vez de vasos sanitários,
fossas. Os donos do pedaço são os
ratos. "Eles parecem gatos, de tão
grandes", diz Soraya Oliveira, 32,
mãe de Jefferson e André.
Na rua sem pavimentação, uma
das diversões das crianças é brincar
em um terreno baldio. Pouco depois da quarta morte, uma escavadeira da prefeitura fez uma limpeza
fajuta no local. A máquina passava,
os ratos pulavam.
Todos os políticos que mantêm
Parque Santa Rosa em um estágio
medieval são culpados pelas mortes
das crianças. Se Garotinho não pode ser responsabilizado criminalmente, pelo menos devia se mancar
e deixar a vida pública. Seus abraços
podem matar.
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