|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VACAS NA METRÓPOLE
A s intervenções urbanas
propostas por artistas costumam pautar-se por princípios de difícil compreensão pelo grande público. Tome-se a marquise na praça do
Patriarca, na capital paulista. Mesmo
passados mais de três anos de sua
instalação, ainda há quem reaja com
estranhamento e ignore sua função.
O mérito da "CowParade" -conjunto de 150 vacas de fibra de vidro
espalhadas desde setembro pela cidade- reside justamente em sua
despretensão. É comum ver crianças
se divertindo com as intervenções,
turistas fotografando-as e mesmo
moradores que percorrem a cidade
para conhecê-las.
Parte de um circuito que inclui outras cidades do mundo, a iniciativa
mistura-se com a publicidade: cada
objeto tem um patrocinador e é decorado por um artista diferente. Na
avenida Paulista, por exemplo, há
uma vaca representada com termômetro na boca que é patrocinada por
um remédio contra a gripe.
Não se trata, naturalmente, de
enaltecer o potencial artístico da
"CowParade". Há nas decorações
um evidente aspecto "kitsch" que parece ecoar uma vertente pouco profícua da arte contemporânea. Também não há como negar que estão
expostas nos locais mais nobres da
capital e que ignoram a periferia
mais populosa. Mas a proposta não é
discutir os significados a fundo ou
renovar a idéia de "arte pública". Trata-se apenas de fortalecer, ainda que
de maneira inusitada e gratuita, os
laços dos transeuntes com uma cidade carente de marcos afetivos.
Em um ambiente urbano hostil,
que normalmente não chama a atenção dos cidadãos -pelo contrário,
gera repulsa-, as simpáticas vacas
contribuem para propagar um sentimento lúdico e desinteressado que
merece ser visto com bons olhos.
Texto Anterior: Editoriais: NORMA ANTINEPOTISMO Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: A pouca-vergonha Índice
|