São Paulo, segunda-feira, 29 de setembro de 2008

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Fantoches e grilos falantes

SÃO PAULO - Há um flagrante descompasso, um nítido divórcio entre a disputa acirrada que travam os candidatos e a indiferença generalizada dos eleitores, faltando seis dias para o primeiro turno.
O antagonismo que os números exprimem em São Paulo não se traduz em ânimos exaltados por parte de quem vota, pelo contrário. Desinteresse, descaso, apatia -é essa a atmosfera que predomina na cidade. Vale aqui a velha piada: Eleição? Só se fala de outra coisa.
Algo desse humor terá a ver com a mesmice das propostas, dos programas, dos truques das campanhas hegemônicas. Sob o pano de fundo do consenso conservador que delimita o espetáculo, candidatos de PT, DEM e PSDB encenam scripts cada vez mais iguais. As diferenças tornaram-se residuais e a luta política sumiu do palco onde cada canastrão procura convencer a platéia de que administra melhor.
Nesse quadro, o papel de grilo falante, que Heloísa Helena desempenhou em 2006, agora parece pertencer muito mais a Soninha do que ao PSOL de Ivan Valente.
Na TV, ela não se exibe propriamente como candidata, mas antes como comentarista da cidade e seus problemas. A estética mambembe e juvenil de seu programa e o aspecto adolescente de sua figura (que parece resistir à idéia de ser adulta "como eles") acabam ressaltando as qualidades da professorinha tagarela, capaz de dizer aos marmanjos comprometidos com a fisiologia que a política deveria ser diferente.
Desta vez não é bem a esquerda -que segue pregando clichês no deserto-, mas a candidata "bicicleteira" e alternativa quem, ironicamente, aponta a falta de alternativas políticas à disposição em São Paulo.
É sintomático que a sensação do marketing eleitoral sejam os bonecos de Kassab. Na versão miniaturizada -o Kassabinho de plástico- ou na versão gigante -o Kassabão inflável-, o boneco, simpático, inofensivo, frouxo, abobalhado, parece traduzir o âmago da campanha.
É irônico. Fantoche de Serra, Kassab se viabilizou candidato criando um boneco de si mesmo.


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