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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Fantoches e grilos falantes
SÃO PAULO - Há um flagrante
descompasso, um nítido divórcio
entre a disputa acirrada que travam
os candidatos e a indiferença generalizada dos eleitores, faltando seis
dias para o primeiro turno.
O antagonismo que os números
exprimem em São Paulo não se traduz em ânimos exaltados por parte
de quem vota, pelo contrário. Desinteresse, descaso, apatia -é essa a
atmosfera que predomina na cidade. Vale aqui a velha piada: Eleição?
Só se fala de outra coisa.
Algo desse humor terá a ver com
a mesmice das propostas, dos programas, dos truques das campanhas hegemônicas. Sob o pano de
fundo do consenso conservador
que delimita o espetáculo, candidatos de PT, DEM e PSDB encenam
scripts cada vez mais iguais. As diferenças tornaram-se residuais e a luta política sumiu do palco onde cada canastrão procura convencer a
platéia de que administra melhor.
Nesse quadro, o papel de grilo falante, que Heloísa Helena desempenhou em 2006, agora parece pertencer muito mais a Soninha do que
ao PSOL de Ivan Valente.
Na TV, ela não se exibe propriamente como candidata, mas antes
como comentarista da cidade e seus
problemas. A estética mambembe e
juvenil de seu programa e o aspecto
adolescente de sua figura (que parece resistir à idéia de ser adulta
"como eles") acabam ressaltando as
qualidades da professorinha tagarela, capaz de dizer aos marmanjos
comprometidos com a fisiologia
que a política deveria ser diferente.
Desta vez não é bem a esquerda
-que segue pregando clichês no deserto-, mas a candidata "bicicleteira" e alternativa quem, ironicamente, aponta a falta de alternativas políticas à disposição em São Paulo.
É sintomático que a sensação do
marketing eleitoral sejam os bonecos de Kassab. Na versão miniaturizada -o Kassabinho de plástico-
ou na versão gigante -o Kassabão
inflável-, o boneco, simpático, inofensivo, frouxo, abobalhado, parece
traduzir o âmago da campanha.
É irônico. Fantoche de Serra,
Kassab se viabilizou candidato
criando um boneco de si mesmo.
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