São Paulo, terça-feira, 29 de outubro de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

O poder, pedra sobre pedra

BRASÍLIA - O chefe da Casa Civil do governo Lula será o deputado José Dirceu ou mais ninguém. O presidente da Câmara será o deputado José Dirceu ou mais ninguém. O coordenador da equipe de transição de Lula teria de ser o deputado José Dirceu ou mais ninguém.
Pelo que se ouve daqui e dali no PT, confirma-se que o presidente do partido se transformou mesmo no maior personagem das eleições -depois do próprio Lula, claro. E suspeita-se de que o PT, famoso como "partido de quadros", pode esfolar-se por cargos.
O segundo nome na lista dos "cotados-para-tudo" é o do médico (que todo mundo pensa que é economista) Antonio Palocci. Ele já é prefeito licenciado de Ribeirão Preto (SP), pode ser coordenador da equipe de transição, chefe da Casa Civil e ministro do Planejamento ou do Desenvolvimento. Só não pode presidir a Câmara por um "detalhe": não é deputado.
O xadrez de preenchimento de cargos, portanto, depende da mexida dessas duas peças: "Zé" Dirceu e Palocci, jeitoso como ele só (apesar de Dirceu ser o mineiro nessa história).
Vejamos a presidência da Câmara, posto-chave em qualquer governo, especialmente num governo no início, que promete tantas mudanças e que vai propor pelo menos cinco reformas (Previdência, tributária, agrária, política e das leis trabalhistas).
Se for Dirceu, ninguém discute. Se não for, todos se sentirão no direito de disputar. Patrus Ananias (MG), porque teve boa votação, João Paulo (SP), porque é o líder, fulano, porque tem experiência, beltrano, porque foi bom prefeito de não sei onde.
Lula promete decidir tudo democraticamente, escancarando o Planalto, ouvindo todos os setores, perseguindo consensos. Precisa começar com os próprios petistas. Até aqui, o PT disputava as eleições com o PSDB. Agora, a disputa é do PT com o PT. E pelo poder concreto, real. Faz uma diferença que você nem imagina.


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