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CARLOS HEITOR CONY
Respingo de lama
RIO DE JANEIRO - Afogado pelo noticiário das eleições do segundo turno,
o episódio envolvendo o ex-deputado
e deputado novamente Ronivon foi
assunto secundário e descartável,
uma vez que se trata de personagem
mais do que secundário e, obviamente, descartável.
O gancho para a sua modesta evidência no noticiário foi a acusação
de ter comprado votos a R$ 100 para
se reeleger. Foragido da Justiça, homiziara-se num hotel em Brasília e
foi flagrado na piscina, aproveitando
o generoso sol do planalto.
Acontece que esse mesmo senhor,
agora acusado de comprar votos de
eleitores, não faz muito tempo, vendeu seu voto no Congresso por R$ 200
mil para aprovar a emenda que tornou FHC reelegível. Não foi um caso
isolado: outros congressistas também
venderam seus votos e pelo menos alguns deles renunciaram ao mandato
antes que sofressem cassação de seus
direitos políticos.
A mídia não se deteve no assunto,
afinal, a prioridade do sistema oficial
que dominava a nossa vida pública
tinha interesse em manter o esquema
que tanto enriqueceu especuladores
de dentro e de fora do país.
Silenciado pelo interesse do governo e de seus beneficiários, o caso ficou
restrito a meia dúzia de colunistas,
considerados "cães raivosos" da paisagem nacional. Mas o fato nunca foi
negado. Pelo contrário, foi absorvido
como mal menor, necessário para o
bem supremo da nação, ou seja, a
reeleição do presidente.
Ronivon foi preso e solto, afinal,
comprar e vender votos, que é a sua
especialidade, constitui uma infração
que tem um ritual próprio. Num Estado de Direito, como o nosso, etc. etc.
etc. Conhecemos a lengalenga.
Sua aparição no noticiário da semana passada serviu para lembrar a
lama que correu para dar um novo
mandato a FHC.
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