São Paulo, terça-feira, 29 de outubro de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Respingo de lama

RIO DE JANEIRO - Afogado pelo noticiário das eleições do segundo turno, o episódio envolvendo o ex-deputado e deputado novamente Ronivon foi assunto secundário e descartável, uma vez que se trata de personagem mais do que secundário e, obviamente, descartável.
O gancho para a sua modesta evidência no noticiário foi a acusação de ter comprado votos a R$ 100 para se reeleger. Foragido da Justiça, homiziara-se num hotel em Brasília e foi flagrado na piscina, aproveitando o generoso sol do planalto.
Acontece que esse mesmo senhor, agora acusado de comprar votos de eleitores, não faz muito tempo, vendeu seu voto no Congresso por R$ 200 mil para aprovar a emenda que tornou FHC reelegível. Não foi um caso isolado: outros congressistas também venderam seus votos e pelo menos alguns deles renunciaram ao mandato antes que sofressem cassação de seus direitos políticos.
A mídia não se deteve no assunto, afinal, a prioridade do sistema oficial que dominava a nossa vida pública tinha interesse em manter o esquema que tanto enriqueceu especuladores de dentro e de fora do país.
Silenciado pelo interesse do governo e de seus beneficiários, o caso ficou restrito a meia dúzia de colunistas, considerados "cães raivosos" da paisagem nacional. Mas o fato nunca foi negado. Pelo contrário, foi absorvido como mal menor, necessário para o bem supremo da nação, ou seja, a reeleição do presidente.
Ronivon foi preso e solto, afinal, comprar e vender votos, que é a sua especialidade, constitui uma infração que tem um ritual próprio. Num Estado de Direito, como o nosso, etc. etc. etc. Conhecemos a lengalenga.
Sua aparição no noticiário da semana passada serviu para lembrar a lama que correu para dar um novo mandato a FHC.


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