São Paulo, segunda-feira, 29 de outubro de 2007

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Lula 3º, modos de usar

SÃO PAULO - Não é difícil perceber que as especulações sobre o terceiro mandato para Lula mobilizam hoje sobretudo dois grupos de interesses conflitantes. O primeiro, como é óbvio, encontra-se difuso no petismo, movido pela constatação de que o partido não tem nome viável para a sucessão de 2010 e vê a oposição despontar como favorita.
Confrontado com a perspectiva de ser desalojado do poder, o PT reage com o que tem à mão -mais Lula. Como não há, na prática nem no horizonte, projetos políticos ou nacionais em disputa, é da preservação da boquinha que se trata.
Do outro lado, também envolvida no zunzum do terceiro mandato, mas por razões opostas, encontra-se a fatia venezuelana da oposição brasileira, aquela que, à revelia dos dados da realidade, insiste em projetar a sombra do chavismo sobre os atos e rumos do governo Lula.
Não cola porque falta verossimilhança aos delírios dessa extrema direita alvoroçada, sempre atrás de pretextos tolos para nos alertar aos berros que o império da lei e a boa ordem democrática estão em perigo. Cadê o capitão Nascimento?
Lula é mesmo um presidente frustrante -estamos de acordo. Pois frustrará também -ou muito me engano- os que, amigos ou inimigos, gostariam de vê-lo engajado numa cruzada pelo terceiro tempo.
Não porque não goste do poder -até demais-, mas porque sabe que o custo político para repetir FHC, mudando as regras do jogo em benefício próprio no meio do caminho, seria mais alto do que a conta apresentada aos tucanos.
Se, no lugar da hipótese da emenda constitucional, fosse convocado um plebiscito, seria fácil arriscar um palpite: Lula 3º venceria com folga. O preço, porém, de uma eleição antecipada no meio do mandato é a divisão inevitável do país, com o provável envenenamento precoce do que lhe resta de governo e glória.
Lula não precisa disso. Arriscar algo ou dividir o país é tudo o que evitou desde que chegou lá. Ele é o grande anestesista dos conflitos de uma sociedade fraturada. Este, acreditem, é seu legado e seu limite.


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