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RUY CASTRO
Onipotentes
RIO DE JANEIRO - Mera coincidência. Vários aeroportos que freqüentei nos últimos anos foram
brindados dias depois com a presença de um (com perdão pelo oxímoro) cantor de rap chamado
Snoop Dogg. Aos 36 anos, Dogg não
se limita a ladrar -morde também.
Está sempre com uma arma ou droga no bolso ao passar por aeroportos. Ao ser revistado, irrita-se, depreda a Sala Vip, acerta o nariz de
três funcionários, vai preso, paga
uma fiança de US$ 200 mil e sai livre, até novo fuzuê no aeroporto seguinte.
Outra celebridade, Britney
Spears, 26, é famosa por tomar porres cósmicos, quebrar boates, agredir fotógrafos, descer do carro sem
calcinha, entrar e sair de clínicas
para dependentes, raspar a cabeça,
perder a guarda das filhas e atropelar gente na rua e fugir sem prestar
socorro. Nunca a ouvi, mas parece
que Britney também canta -é até
chamada de "princesinha do pop".
E há Amy Winehouse, que, pelo
pouco que escutei, sabe cantar, mas
não creio que chegue aos 100 anos
-ou aos 24. Amy é uma antologia
ambulante de birita, cocaína, maconha, heroína e Special K, este um
remédio para cavalo. Seu aspecto é
terrível. Está sempre machucada,
as overdoses são freqüentes e, naturalmente, ela não admite se tratar.
Seu organismo já não suporta alimento. Tem 23 anos.
Snoop, Britney e Amy não são
"rebeldes" -apenas pessoas doentes. Mas são também à prova de ajuda porque, pelos milhões que representam, se julgam onipotentes. Nas
décadas de 40 e 50, a tolerância era
menor. Por causa de heroína, Charlie Parker e Billie Holiday ficaram
anos proibidos de trabalhar nos
clubes de Nova York -quase uma
morte profissional. Cumpriram a
sentença, mas, falidos e tristes, já
não lhes restava muito tempo: Parker morreu em 1955, aos 34 anos;
Holiday, em 1959, aos 44.
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