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CLÓVIS ROSSI
Previsões e análises
SÃO PAULO - Em abril deste ano,
o governo trabalhava com a perspectiva de um crescimento econômico de 4,5%. Agora, a previsão dá
um salto para 5,2%. Erro, portanto,
de 15,5%.
Para o ano que vem, outro erro
grave, este para menos: em abril, o
governo dizia que a economia cresceria 5% em 2008; agora, prevê apenas 4,5%. Erro de 11%.
A cada ano que passa, previsões
econômicas revelam-se invariavelmente equivocadas -por muito.
Não apenas do governo, mas também do setor privado, de resto em
proporções parecidas.
Não obstante, nós, jornalistas,
continuamos, a cada ano que passa,
repetindo acriticamente as previsões. Ou, posto de uma maneira dura: estamos publicando informações que sabemos que podem estar
equivocadas.
Por isso, mas não só por isso, vale
dar voz aos que quase nunca aparecem no debate público sobre economia. Cito Celia Lessa Kerstenetzky (Universidade Federal Fluminense), coordenadora do Centro
de Estudos sobre Desigualdade e
Desenvolvimento, no mais recente
relatório do "Observatório da Cidadania", um conjunto de entidades
da sociedade civil.
Ela lança um olhar sobre dez
anos de relatórios do "Observatório", para concluir: "A gestão macroeconômica dos últimos dez anos
não apenas significou uma pesada
restrição ao desenvolvimento social brasileiro, mas, sob certos e importantes aspectos, agravou nossa
questão social. (...) O reforço aos
programas de transferência de renda, sem dúvida importante e meritório, não tem contudo rendido o
alcance pleno de seus objetivos e
tem deixado deficitárias outras
áreas, como a educação, a saúde e a
questão fundiária".
Pode estar certa ou errada, mas
por que não dar a esse tipo de análise a mesma atenção que se dá a previsões que sabemos que, em geral,
estão erradas?
crossi@uol.com.br
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