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A Câmara dos Deputados teve neste ano desempenho melhor que a legislatura anterior?
SIM
Ano foi marcado pela volta da normalidade
ROGÉRIO SCHMITT
EM FEVEREIRO, defendi neste
espaço a tese de que a nova Câmara seria melhor do que a anterior. Quase um ano depois, a minha
avaliação continua sendo a mesma.
Estas são as minhas razões.
A nova legislatura da Câmara dos
Deputados completou o seu primeiro
ano de vida sem registrar nenhum
grande destaque positivo ou negativo.
Por um lado, é fato que houve menos avanços do que o esperado na votação de reformas modernizantes da
legislação econômica brasileira. Por
outro lado, entretanto, também é verdade que a Câmara conseguiu, ao menos, atravessar 2007 sem ser assolada
por nenhum escândalo da magnitude
daqueles que a atingiram em cheio
nos dois anos anteriores.
Esse retorno da Câmara a uma relativa normalidade política merece ser
comemorado, ainda que com cautela.
Após os recentes escândalos do mensalão (2005) e dos sanguessugas
(2006), a imagem pública da instituição e de seus integrantes não voltou a
ser manchada neste ano por novas
denúncias de corrupção generalizada.
No meio político, o noticiário negativo recaiu quase que inteiramente
sobre o Senado Federal em 2007. Um
senador renunciou ao seu mandato
parlamentar no rastro de suspeitas de
corrupção que poderiam resultar na
sua cassação. E ninguém menos do
que o antigo presidente da Casa, após
meses de contínuo desgaste político
provocado por uma série de denúncias de corrupção, acabou forçado a
entregar o elevado cargo que ocupava
a fim de preservar o seu próprio mandato de senador.
Não deixa de ser uma ironia o fato
de que a melhora relativa da atual Câmara dos Deputados em relação à anterior deva-se menos ao que ela de fato fez ao longo do ano e mais ao que
ela deixou de fazer. Mesmo assim,
não há como deixar de reconhecer
que, nos tempos atuais, a Câmara ter
parado de piorar já representou uma
razoável melhora em relação ao seu
passado mais recente.
Algumas outras supostas evidências negativas que costumam ganhar
destaque na imprensa nesta época do
ano não são, a rigor, nenhuma novidade e não podem sequer ser utilizadas como argumentos críticos (ou
laudatórios) a uma legislatura em
particular.
Esse é o caso, por exemplo, do controle exercido pelo Palácio do Planalto sobre a agenda de votações e de
projetos aprovados pela Câmara ou
do contínuo trancamento das atividades do plenário devido ao número excessivo de medidas provisórias editadas pelo governo.
Essas são só algumas das constantes do funcionamento do sistema político brasileiro nos últimos 20 anos.
Por outro lado, o desempenho da
Câmara em 2007 esteve longe de ser
excepcional. O primeiro ano de uma
nova legislatura costuma ser marcado
por uma produtividade legislativa
acima da média. Isso não aconteceu
desta vez. Mas o predomínio de uma
agenda de votações de baixo impacto
deveu-se principalmente ao fato de o
governo Lula ter optado por não encaminhar ao Congresso nenhuma das
chamadas reformas estruturais (tributária, previdenciária e trabalhista).
Mesmo assim, os deputados aprovaram ao longo do ano uma série de
importantes projetos do governo nas
áreas fiscal e regulatória -muitos dos
quais já convertidos em lei- e que deverão gerar efeitos positivos sobre a
economia brasileira no futuro.
As votações que mais merecem
destaque foram a desburocratização
do registro de empresas, a política de
reajustes para o salário mínimo, a reforma da lei de licitações, a padronização das normas contábeis e o marco
regulatório para o gás natural. Não foi
pouca coisa.
Naturalmente, é preciso reconhecer que a Câmara (e o Congresso como um todo) já viveu momentos muito melhores do que este no passado.
Mas também não parece exagerado
admitir que, após ter chegado muito
perto do fundo do poço, a principal
marca do ano legislativo na Câmara
foi a retomada da normalidade.
ROGÉRIO SCHMITT, 38, doutor em ciência política pelo
Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), é analista político sênior da Tendências Consultoria Integrada.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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