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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Zelig, o zelador
SÃO PAULO - Enchentes, bairros
alagados, trânsito, ruas repletas de
lixo, redução da merenda escolar,
aumento do IPTU. Não causa surpresa, a quem acompanha a vida da
cidade, que a popularidade do prefeito Gilberto Kassab tenha caído.
O tombo foi até pequeno. O Datafolha registrou que a aprovação
(bom/ótimo) ao governo recuou de
45%, em março, para 39% em dezembro; a reprovação (ruim/péssimo) passou de 23% para 27%.
Fica, como cartão postal da gestão Kassab neste final de ano, a imagem do bairro pobre submerso, as
pessoas lutando na água infecta para salvar o resto dos pertences de
uma vida. A prefeitura passou dias
sem tomar nenhuma atitude, custou a perceber o que estava em jogo.
O drama do Jardim Pantanal talvez simbolize, como nenhum outro,
não apenas o descaso com os mais
pobres, mas o desmanche daquele
que parecia ser aos olhos do eleitor,
pobre ou rico, o principal atributo
do prefeito: o de ser uma espécie de
"zelador" que cuidaria da cidade.
A ideia, explorada na campanha
eleitoral, de que Kassab, uma vez
submetido ao teste do poder, já havia se mostrado capaz de zelar pelas
pessoas e de fazer as coisas funcionar, foi pelos ares (ou pelo rio).
Cria de José Serra, o prefeito demo-tucano nunca esteve associado
à imagem de um inovador, um formulador, um estrategista, uma figura de visão histórica. Pelo contrário,
adaptou-se a um perfil deliberadamente modesto, de líder menor
-zelador das coisas práticas. A obediência ao padrinho funcionava como selo de garantia do boneco de
vento (lembre-se do Kassabão inflável) que iria ser reconduzido à
administração, desta vez pelo voto.
Egresso do malufismo nos anos
90, fã declarado de Lula na campanha de 2008, marionete de Serra,
Kassab tem sido um Zelig da política. Sua plataforma eleitoral era
uma bricolagem pragmática de coisas herdadas, a começar pelo CEU
de Marta Suplicy. Neste ano, o prefeito enfim mostrou a sua cara. Alguém precisa chamar o síndico.
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