São Paulo, terça-feira, 29 de dezembro de 2009 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Uma China renascida da crise global
CHARLES A. TANG
A INTENSIDADE e a velocidade da grave crise econômica surpreenderam o mundo. No início, a China perdeu 20 milhões de postos de trabalho e viu serem fechadas dezenas de milhares de suas indústrias. Todavia, a pronta reação do governo chinês e de outros países, providenciando expressivos pacotes de estímulos, abreviou e evitou o pior do que se projetara. Economistas respeitados previram um crescimento chinês inferior à taxa necessária para manter o seu nível de empregos, com a consequente instabilidade política e até o caos social. No entanto, com a vastidão de seus recursos financeiros, a China cumprirá -e até superará- a taxa de crescimento de 8% que anunciara. A China do pós-crise viu sua posição na ordem econômica mundial mudar, e o nível de respeito internacional ao país evoluiu, saindo dessa crise economicamente mais diversificada, independente de mercados estrangeiros e fortalecida. Suas significativas reservas financeiras lhe proporcionam oportunidades numa época em que a "liquidez é rei", e os ativos, desvalorizados. Com isso, a China adquire empresas estratégicas, laboratórios, alta tecnologia, centros de pesquisa e bons administradores a fim de poder exercer uma liderança econômica mundial. Até sua participação no mercado mundial aumentou, embora tenha sido encolhida pela crise. A China consolida seus avanços econômicos assegurando para si o fornecimento a longo prazo de produtos estratégicos, como petróleo, minérios e alimentos básicos. Sem possuir o zelo missionário de querer moldar o mundo à sua imagem, impondo suas crenças e recorrendo à força para conseguir tais propósitos, a China consegue estabelecer suas alianças. A prioridade chinesa é tão somente fazer negócios e assegurar-se de fontes dos recursos estratégicos de que necessita para seu crescimento sustentado e para alimentar seu povo. Enquanto as "nações ricas" tentam reparar suas indústrias do presente, a China impressiona por investir enormes somas no desenvolvimento de indústrias do futuro. Estas gerarão novos empregos para compensar os milhões perdidos na crise. A decisão de tornar-se um país verde também desenvolverá um gigantesco mercado interno para indústrias desse setor. Contando com inovações tecnológicas das áreas de nanotecnologia, carros elétricos, energia solar, energia eólica etc., a China será a força dominante nas indústrias high tech da próxima geração. A quantidade de engenheiros e cientistas que a China forma e o fato de sua liderança ser composta por engenheiros contribuem para isso. Investindo na construção de moderna infraestrutura para permitir o país que planeja e no crescimento do interior do seu país, a China assegura seu crescimento sustentado pelas próximas décadas. Embora devedoras, as "nações ricas" continuam controlando o sistema financeiro internacional e o FMI. A China e outros países credores emergentes insistem em ter mais voz e maior participação. Para proteger suas reservas, esses países querem substituir o dólar, em trajetória de declínio, por outra moeda padrão internacional. A China se empenha em internacionalizar a sua própria moeda, por meio de "swaps" de moedas com vários países, permitindo a liquidação de comércio exterior em sua própria moeda nas suas cidades de maior intercâmbio comercial internacional, com Hong Kong e os países da Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático). O Brasil e a China já tratam de liquidar seu comércio bilateral nas suas próprias moedas. A desvalorização do dólar continuará, pois os Estados Unidos têm poucas opções, imprimindo, sem lastro, os recursos de que necessita para reparar sua economia. Essa perda do valor do dólar ajudará a que suas gigantescas obrigações sejam mais baratas para serem liquidadas. Todavia, isso deverá custar-lhe também a perda do dólar como moeda padrão internacional. Isso retiraria dos EUA o cheque em branco de financiamentos internacionais e faria com que passassem a viver de seus próprios meios. O tão invejado padrão de vida norte-americano sofrerá séria contração, podendo até levar a que suas aventuras internacionais dependam de aprovação de seus financiadores. Ocorreu uma alteração na balança de poder no mundo pós-crise, e a China se consolida cada vez mais como potência econômica mundial. CHARLES ANDREW TANG é presidente binacional da Câmara de Comércio & Indústria Brasil-China e fundador do Instituto de Pesquisa e Estudo de Desenvolvimento Econômico. Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Judith Brito: Planos para o Ano-Novo Próximo Texto: Painel do Leitor Índice |
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