São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

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TROCA COM O HIZBOLLAH

Nem o sangrento atentado terrorista que deixou pelo menos dez mortos em Jerusalém impediu o governo de Israel de seguir em frente com a polêmica troca de prisioneiros com o grupo extremista libanês Hizbollah. As controvérsias em torno do acordo começam nos números. Para obter a libertação de um prisioneiro e reaver os corpos de três soldados mortos, Israel está soltando 430 árabes e devolvendo os restos mortais de 59 combatentes.
Mesmo que se admita que trocas de prisioneiros não são negociações comerciais e que não se podem atribuir valores numéricos a vidas humanas, ainda assim a desproporção salta aos olhos. Críticos israelenses da decisão dizem que ela fortalecerá o Hizbollah e poderá incentivar grupos extremistas a seqüestrarem cidadãos israelenses para depois os trocarem por militantes capturados.
Também se questiona o fato de Israel ter aceitado negociar com um grupo guerrilheiro. A restrição, porém, é mais retórica do que prática. Jerusalém já negociou com o Hizbollah no passado em questões pontuais. Também faz acordos com a Autoridade Nacional Palestina e com a Síria, que mantêm ligações com o terrorismo.
Em defesa do acordo, que vem sendo negociado há anos e contou com a mediação da Alemanha, o governo israelense levanta apenas o argumento humanitário. Existem também, é certo, motivações políticas, embora elas sejam menos claras. Os números podem ser relativizados. Grande parte dos prisioneiros trocados são palestinos contra os quais não pesavam acusações graves. Seriam libertados de qualquer maneira.
No que diz especificamente respeito ao Hizbollah, tê-lo como interlocutor pode não ser um mau negócio para Israel. O grupo passa por um processo de institucionalização. Já se converteu num partido político no Líbano e vem mantendo a ordem no sul do país, sem provocar maiores atritos com os israelenses. Sua rivalidade com o governo central de Beirute também pode interessar ao premiê Ariel Sharon na medida em que contribui para impedir a consolidação de um governo mais forte no Líbano.


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