São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

Na berlinda

BRASÍLIA - De José Serra, sobre a divisão da Casa Civil em dois, que alguns vêem como fortalecimento de José Dirceu: "Como assim? O Dirceu foi enfraquecido no que ele sabe fazer, que é negociação política, cooptação, arranjo de maiorias. E fortalecido numa área que nunca foi dele, a administração de governo".
A avaliação faz sentido e vem no chamado "momento oportuno", quando já começam a vazar informações de que: 1) a decisão de dividir a Casa Civil partiu de Lula, não foi um gesto desprendido de Dirceu; 2) o presidente continua meio cabreiro com os excessos do seu ministro.
Nada se cria, nem mesmo nos governos que se dizem mais mudancistas. É assim que os ministros que se sentem e se comportam como os mais fortes começam a apanhar. Inclusive -ou principalmente- dos chefes.
Com toda a história política, o talento político e a legitimidade para ocupar o cargo, Dirceu deveria parar, refletir e, quase numa prece, perguntar-se: "Será que não estou metendo os pés pelas mãos?".
O momento é este, ministro, porque nada se cria também nos cronogramas políticos dos governos: no início, tudo é festa, e as críticas são "coisa de derrotado"; depois, a festa passa, as críticas começam a pesar, vem a primeira reforma ministerial e, enfim, quando os recursos vão se esgotando, acirram-se... as divergências internas.
Dirceu está, evidentemente, no olho do furacão. Como Palocci. A diferença é que um parte para a briga, fala demais, se faz de machão. O outro é jeitoso, leva a turma na conversa, prefere xadrez a luta de boxe.
Nos governos em geral, um ganha uma parada, o outro ganha a seguinte, e o presidente vai empurrando com a barriga. Mas a rotina do poder indica que, mais dia, menos dia, um acaba levando a melhor.
Com uma novidade: a entrada em cena de Aldo Rebelo na articulação política. Essa é a grande incógnita. Ele pode ser o melhor aliado e até o melhor pára-raios de Dirceu. Ou não. Depende dele, mas depende sobretudo do próprio Dirceu.


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