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ELIANE CANTANHÊDE
Na berlinda
BRASÍLIA - De José Serra, sobre a divisão da Casa Civil em dois, que alguns vêem como fortalecimento de
José Dirceu: "Como assim? O Dirceu
foi enfraquecido no que ele sabe fazer, que é negociação política, cooptação, arranjo de maiorias. E fortalecido numa área que nunca foi dele, a
administração de governo".
A avaliação faz sentido e vem no
chamado "momento oportuno",
quando já começam a vazar informações de que: 1) a decisão de dividir
a Casa Civil partiu de Lula, não foi
um gesto desprendido de Dirceu; 2) o
presidente continua meio cabreiro
com os excessos do seu ministro.
Nada se cria, nem mesmo nos governos que se dizem mais mudancistas. É assim que os ministros que se
sentem e se comportam como os mais
fortes começam a apanhar. Inclusive
-ou principalmente- dos chefes.
Com toda a história política, o talento político e a legitimidade para
ocupar o cargo, Dirceu deveria parar,
refletir e, quase numa prece, perguntar-se: "Será que não estou metendo
os pés pelas mãos?".
O momento é este, ministro, porque
nada se cria também nos cronogramas políticos dos governos: no início,
tudo é festa, e as críticas são "coisa de
derrotado"; depois, a festa passa, as
críticas começam a pesar, vem a primeira reforma ministerial e, enfim,
quando os recursos vão se esgotando,
acirram-se... as divergências internas.
Dirceu está, evidentemente, no olho
do furacão. Como Palocci. A diferença é que um parte para a briga, fala
demais, se faz de machão. O outro é
jeitoso, leva a turma na conversa,
prefere xadrez a luta de boxe.
Nos governos em geral, um ganha
uma parada, o outro ganha a seguinte, e o presidente vai empurrando
com a barriga. Mas a rotina do poder
indica que, mais dia, menos dia, um
acaba levando a melhor.
Com uma novidade: a entrada em
cena de Aldo Rebelo na articulação
política. Essa é a grande incógnita.
Ele pode ser o melhor aliado e até o
melhor pára-raios de Dirceu. Ou não.
Depende dele, mas depende sobretudo do próprio Dirceu.
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