São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

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MARCELO BERABA

Papel de banana

RIO DE JANEIRO - O governo do Rio iniciou mais uma campanha na televisão para mostrar que diminuíram a violência e a criminalidade na cidade. É apenas propaganda.
É possível que alguns índices de crimes tenham caído, mas continuam escandalosamente altos. E os fatos, mais do que os números, não comprovam a publicidade. Basta ver o que aconteceu nos últimos dias.
O governo não consegue dar conta dos comandos de traficantes. Eles continuam dominando e horrorizando não só as favelas mas bairros inteiros. Na terça-feira, por exemplo, um bando decidiu fazer uma festa (essa é a hipótese da polícia), desceu o morro e saqueou o comércio de Vila da Penha. Os comerciantes calculam que tenham levado mais de 300 quilos de carnes e bebidas. No mesmo dia, no centro da cidade, outro bando de traficantes decretou luto pela morte de um bandido e fechou o comércio em torno da Central do Brasil.
Vias públicas essenciais como o túnel Rebouças e as linhas Amarela e Vermelha foram obstruídas por causa de bondes e tiroteios.
Mas a violência organizada que desafia o governo e a população não se restringe ao tráfico de drogas. As guerras pelo controle dos transportes clandestinos (e por alguns já legalizados) e pelos pontos-de-venda dos camelôs também formam quadrilhas e geram enfrentamentos, mortes e corrupção policial.
É evidente que a política de segurança do governo não está dando certo. Que política? A política do confronto. Não é a política da inteligência, dos procedimentos técnicos, da investigação, do planejamento, da prevenção, mas a do confronto.
Nesta semana mesmo, o secretário de Segurança, Anthony Garotinho, não só reafirmou essa política como soltou mais uma daquelas frases que parecem indicar força e determinação, mas soam a bravata e fanfarronice: "A polícia não vai fazer papel de banana". E quem disse que vai?


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