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VINICIUS TORRES FREIRE
O alckmista
SÃO PAULO - Geraldo Alckmin nasceu numa incubadora política. Na
verdade, brotou em Pindamonhangaba, mas floresceu na estufa de Mário Covas. Sua aparência asséptica e
sem cicatrizes não vem só daí. Não se
arranhou no combate à ditadura,
pois algo jovem (53 anos) e muito
municipal para participar das principais refregas. Não tomou parte da
convulsão populista da Nova República. Como deputado constituinte e
federal não foi desimportante. Nem
importante, apesar de seu papel decisivo nas leis que criaram o sistema federal de saúde e a assistência social
federal, aliás bem-feitas.
A primeira idéia política a transparecer em Alckmin foi o enxugamento
dos governos, corte de gastos e privatização, idéia que emanou logo
quando firmou raízes como vice-governador. Embora não seja má idéia,
foi a primeira e a última. Desde então, o governador compartilha certos
dons com o alquimista Paulo Coelho:
embora saiba fazer ventar (na política), é capaz de não ser notado, de ficar invisível (ideologicamente).
Alckmin pode até estar no caminho
de se tornar o puro espírito da luz gerencial, o anjo iluminado da administração, que em breve encarnará
também o financismo. Talvez por isso seja tão admirado por uma parcela dourada e gorda do empresariado
paulista, que por inclinação profissional admira gerentes e por hábito
detesta política de verdade, sendo até
outro dia adepta da ditadura e malufista, disfarçando hoje seu reacionarismo com a fantasia gerencial.
Talvez não seja correto implicar
com a falta de eloqüência ideológica
de Alckmin. Seus secretários falam
por ele. Gabriel Chalita fala por si,
por Alckmin e por quem quiser, com
suas dezenas de livros de sentimentalismo algo religioso e muito kitsch,
profeta do primeira-damismo e filósofo do chá de caridade. Saulo de
Castro também fala pelos tubos -de
revólver. Trata-se do crisântemo e da
espada, da manteiga e do canhão;
com o gerencialismo da obra de Alckmin, também conhecida como Opus
Dei, formam a trindade ideológica
da direita que quer derrotar Lula.
@ - vinit@uol.com.br
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