São Paulo, terça-feira, 30 de abril de 2002

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OCULTAÇÃO DE CADÁVER

É preocupante a notícia de que homicídios dolosos estão desaparecendo das estatísticas oficiais de criminalidade do Estado de São Paulo. Pode parecer incrível que a polícia paulista não seja capaz de somar o número de assassinatos registrados nas diversas delegacias do interior, mas a reportagem de Rogério Pagnan, desta Folha, publicada no último domingo, não deixa margem para dúvidas.
Entre 1999 e 2000, pelo menos 37 homicídios dolosos deixaram de figurar nos dados da Secretaria da Segurança Pública paulista. Essa cifra corresponde a um levantamento feito por este jornal em 87 municípios do interior. Em 11 deles houve discrepâncias entre os números registrados na origem e os finalmente publicados no "Diário Oficial".
Poder-se-ia argumentar que o manejo de dados, como toda atividade humana, está sujeito a erro e que 37 assassinatos entre os cerca de 3.800 que se contabilizam por ano no interior paulista não representam desvio significativo. É possível, mas vale lembrar que as 87 cidades escolhidas para o levantamento são relativamente pequenas, com população entre 2.000 e 100 mil habitantes.
O ponto mais delicado talvez seja o de que todas as 11 discrepâncias resultaram num número menor de crimes nas cifras oficiais. A estatística ensina que diferenças provocadas por erros aleatórios tenderiam a distribuir-se de modo mais uniforme: isto é, deveria haver erros para menos e também para mais.
Seria precipitação afirmar que há má-fé por trás desse episódio, mas parece claro que as estatísticas oficiais estão a exigir uma investigação mais detalhada.
No mínimo, a polícia precisa dispor de números exatos porque é com base neles que são tomadas decisões de investimento e sobre estratégias de combate ao crime. Sem uma base estatística confiável não se pode nem sonhar com uma polícia eficiente que enfrente bandidos de forma inteligente e com métodos científicos.



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