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OCULTAÇÃO DE CADÁVER
É preocupante a notícia de
que homicídios dolosos estão
desaparecendo das estatísticas oficiais de criminalidade do Estado de
São Paulo. Pode parecer incrível que
a polícia paulista não seja capaz de
somar o número de assassinatos registrados nas diversas delegacias do
interior, mas a reportagem de Rogério Pagnan, desta Folha, publicada
no último domingo, não deixa margem para dúvidas.
Entre 1999 e 2000, pelo menos 37
homicídios dolosos deixaram de figurar nos dados da Secretaria da Segurança Pública paulista. Essa cifra
corresponde a um levantamento feito por este jornal em 87 municípios
do interior. Em 11 deles houve discrepâncias entre os números registrados na origem e os finalmente publicados no "Diário Oficial".
Poder-se-ia argumentar que o manejo de dados, como toda atividade
humana, está sujeito a erro e que 37
assassinatos entre os cerca de 3.800
que se contabilizam por ano no interior paulista não representam desvio
significativo. É possível, mas vale
lembrar que as 87 cidades escolhidas
para o levantamento são relativamente pequenas, com população entre 2.000 e 100 mil habitantes.
O ponto mais delicado talvez seja o
de que todas as 11 discrepâncias resultaram num número menor de crimes nas cifras oficiais. A estatística
ensina que diferenças provocadas
por erros aleatórios tenderiam a distribuir-se de modo mais uniforme:
isto é, deveria haver erros para menos e também para mais.
Seria precipitação afirmar que há
má-fé por trás desse episódio, mas
parece claro que as estatísticas oficiais estão a exigir uma investigação
mais detalhada.
No mínimo, a polícia precisa dispor de números exatos porque é com
base neles que são tomadas decisões
de investimento e sobre estratégias
de combate ao crime. Sem uma base
estatística confiável não se pode nem
sonhar com uma polícia eficiente
que enfrente bandidos de forma inteligente e com métodos científicos.
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