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CLÓVIS ROSSI
A lenda Serra
SÃO PAULO - É inacreditável ter prosperado uma dessas lendas que,
de vez em quando, assolam a política
brasileira e são reproduzidas sem que
se pare para pensar na lógica mínima da coisa.
Refiro-me à especulação de que José
Serra vá abandonar a disputa presidencial. É lenda ou é falta de assunto,
mas, em qualquer caso, não tem o
menor parentesco com a realidade.
Piores são os motivos alegados para
que Serra desista. Primeiro motivo: o
PFL apoiaria qualquer candidato tucano, menos Serra.
Muito bem. E daí? O PFL jamais
elegeu um presidente da República,
não tem votos em São Paulo e em Minas Gerais, dois dos três maiores colégios eleitorais do país e, mesmo no
Rio de Janeiro, o outro grande cesto
de votos, depende de um Cesar Maia,
que muda de partido como quem
muda de camisa.
Só um cretino trocaria de candidato para ficar com o apoio do PFL. E o
pessoal do PSDB pode ter todos os defeitos que você, leitor, quiser lhes pespegar, mas cretinos não são.
Acena-se também com Tasso Jereissati e com Aécio Neves como substitutos de Serra. Ótimos nomes. Pena
que Tasso, enquanto era pré-candidato, fosse chamado, no próprio partido, de "Traço" Jereissati, dada a sua
anemia nas pesquisas.
Aécio, por sua vez, jamais disputou
uma eleição majoritária na danada
da vida. Quem é que garante que ele,
magicamente, pularia para 20 e poucos por cento das intenções de voto se
não pode apostar nem sequer na sua
eleição para governador de Minas
Gerais?
O leitor que quiser pode apontar
mil e um motivos para substituir Serra: é mera continuidade de FHC, não
foi capaz de vencer o mosquito da
dengue, é careca, torce para o Palmeiras etc. etc.
Mas usar o argumento do apoio pefelista e acenar com os dois nomes citados é falta do que fazer.
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