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ELIANE CANTANHÊDE
"Igual a mim"
BRASÍLIA - Vira e mexe, alguém pergunta e se pergunta como é que pode
o PT e o governo terem sido tão profundamente atingidos por "mensalão", cueca, Land Rover, Telemar e,
apesar de tudo isso, Lula estar firme
feito uma rocha com seus 40% de intenções de voto para a reeleição.
Um fenômeno. Mas olhar em volta
pode trazer a resposta que se procura
dentro do Brasil. Hugo Chávez enfrentou e enfrenta banqueiros, empresários, imprensa, igreja, universidades e boa parte da classe média da
Venezuela, mas já ganhou três eleições. Evo Morales é o primeiro presidente de origem indígena eleito e empossado na Bolívia. Ollanta Humala,
também de origem indígena, chegou
em primeiro lugar na eleição presidencial do Peru e é favorito para o segundo turno.
O que eles têm em comum e de especial? A identidade com a maioria
dos seus povos, reforçada pelo carisma pessoal e pelo discurso nacionalista, populista, antiimperialista.
É assim que, num estalar de dedos,
Hugo Chávez leva milhares, milhões
até, às ruas de Caracas e de todo o
país a seu favor. É assim que Evo Morales vai ganhando popularidade e
ampliando a confiança interna, enquanto se esvai a externa. E é assim
que as denúncias, por mais consistentes, não colam em Lula e ele lidera as
pesquisas. Lula não é indígena nem
radicaliza no discurso. Mas tem a cara da maioria dos brasileiros.
Se há um traço comum na América
Latina é a desigualdade social, com
brancos, escolarizados e globalizados
de um lado e mestiços, ignorantes,
pobres e excluídos, de outro. Eram
aqueles que faziam presidentes. São
estes que começam a fazer.
Faça chuva, faça sol, pergunte-se a
porteiros, peões e domésticas urbanos
ou a lavradores e esfomeados rurais
em quem votam no Brasil. A resposta
costuma ser: "Em Lula". No Nordeste, ele está uns 40 pontos na frente do
paulista Alckmin. O lema colou: "Todos roubam, mas um é diferente. É
como a gente, igual a mim".
@ - elianec@uol.com.br
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