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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Jardim eleitoral
SÃO PAULO - Deve-se à repórter
Catia Seabra a notícia mais relevante -talvez a única- da política brasileira neste ano: o governo articula
com caciques tucanos o fim da reeleição a partir de 2010. São conversas ainda cobertas de fumaça, mas
até então não se tinha idéia de quão
avançada estava o que FHC chamou de "acomodação de interesses" entre Lula e os presidenciáveis
do PSDB -Serra e Aécio.
A lua-de-mel entre os dois e o petista tem prazo de validade, assim
como a política do café-com-leite
pactuada pelos tucanos que disputam uma única vaga. Não é provável
que essa convivência cordial, traduzida na rendição branca ao lulismo
vitorioso, siga intacta depois das
eleições municipais de 2008.
Seja como for, os coveiros da reeleição saíram da sombra na condição de aliados. Todos são pela mudança das regras do jogo, mas ninguém quer liderar o processo.
"Onde não há jardim, as flores
nascem de um secreto investimento em formas improváveis", escreveu Drummond num grande poema. Mas que flores improváveis nos
reservam a sucessão de Lula?
Não sabemos, mas seria ingênuo não enxergar nessa estufa a semente exótica do terceiro mandato.
Ela pode ou não brotar -dependerá
da chuva, do sol, das variáveis do clima-, mas há muitos lulistas arando
a terra. Fora disso, o PT não tem nomes que lhe dêem perspectivas de
poder. Em pista própria, Ciro Gomes surge como uma espécie de
cacto do campo governista, planta
solitária que cresce na adversidade
e sobrevive com pouca água.
Mas algo insólito pode germinar
no deserto petista. Quem é a nova
unanimidade do governo? Não há
duas respostas: Fernando Haddad.
Tem contra si (ou não) o fato de ser
virgem nas urnas. Se puder, a máquina petista irá devorá-lo. Mas pode ter mais a seu favor: caiu nas graças de Lula, vai sendo precocemente reconhecido dentro e fora do governo, já agrada à elite e tem perfil
televisivo. É bom começar a olhar já
para os frutos da educação.
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