São Paulo, segunda-feira, 30 de abril de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Jardim eleitoral

SÃO PAULO - Deve-se à repórter Catia Seabra a notícia mais relevante -talvez a única- da política brasileira neste ano: o governo articula com caciques tucanos o fim da reeleição a partir de 2010. São conversas ainda cobertas de fumaça, mas até então não se tinha idéia de quão avançada estava o que FHC chamou de "acomodação de interesses" entre Lula e os presidenciáveis do PSDB -Serra e Aécio.
A lua-de-mel entre os dois e o petista tem prazo de validade, assim como a política do café-com-leite pactuada pelos tucanos que disputam uma única vaga. Não é provável que essa convivência cordial, traduzida na rendição branca ao lulismo vitorioso, siga intacta depois das eleições municipais de 2008.
Seja como for, os coveiros da reeleição saíram da sombra na condição de aliados. Todos são pela mudança das regras do jogo, mas ninguém quer liderar o processo.
"Onde não há jardim, as flores nascem de um secreto investimento em formas improváveis", escreveu Drummond num grande poema. Mas que flores improváveis nos reservam a sucessão de Lula?
Não sabemos, mas seria ingênuo não enxergar nessa estufa a semente exótica do terceiro mandato. Ela pode ou não brotar -dependerá da chuva, do sol, das variáveis do clima-, mas há muitos lulistas arando a terra. Fora disso, o PT não tem nomes que lhe dêem perspectivas de poder. Em pista própria, Ciro Gomes surge como uma espécie de cacto do campo governista, planta solitária que cresce na adversidade e sobrevive com pouca água.
Mas algo insólito pode germinar no deserto petista. Quem é a nova unanimidade do governo? Não há duas respostas: Fernando Haddad. Tem contra si (ou não) o fato de ser virgem nas urnas. Se puder, a máquina petista irá devorá-lo. Mas pode ter mais a seu favor: caiu nas graças de Lula, vai sendo precocemente reconhecido dentro e fora do governo, já agrada à elite e tem perfil televisivo. É bom começar a olhar já para os frutos da educação.


Texto Anterior: Editoriais: Perigo entre veículos

Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: Judiciário e relações impróprias
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.