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MELCHIADES FILHO
Caldo Maggi
BRASÍLIA - A alta dos preços vai
aumentar a receita do produtor,
não importa o tamanho da fazenda.
Mas há agronegócios e agronegócios. As janelas de oportunidade
não vão se abrir igualmente a todos.
O dedo do governo fará diferença.
Alarmado com a escalada da inflação e pressionado pela comunidade internacional a fazer uma "reparação" à política de biocombustíveis, o Planalto encomendou à área
técnica "medidas específicas".
Estuda-se: 1) ampliar o crédito à
produção de alimentos de consumo
popular; 2) renegociar parte da dívida ruralista; 3) criar incentivos ao
plantio no exterior (África); 4) injetar verbas em pesquisa; 5) acelerar
obras de infra-estrutura.
Não dá para dizer que o cardápio
foi montado só para ajudar este ou
aquele setor. Mas o caráter "focalista" das medidas facilita a vida de
quem já tem QG em Brasília (lobbies, advogados, parlamentares),
planos prontos para cruzar o oceano, relações históricas com a Embrapa e projetos incluídos no PAC.
Os grandes produtores do Centro-Oeste, cujo símbolo é o governador Blairo Maggi (soja-MT),
preenchem todos esses requisitos.
Ou seja, larga na frente a agricultura empresarial, que produz quase
65% da riqueza rural do país, e não a
agricultura familiar, que produz
mais de 65% do que comemos.
Não parece casual o novo discurso do governo Lula, de que, em momentos de comoção, perde sentido
o "debate ideológico" sobre o modelo ideal de agronegócio.
Paul Collier, sub-reitor da universidade de Oxford e conceituado
estudioso da pobreza, critica o
"sentimentalismo" de quem defende as pequenas fazendas. Elas colhem pouco e demoram a incorporar tecnologias que permitiriam colher mais, diz. Para urgências de
grande escala, o autor de "The Bottom Billion" pede solução de grande escala. Qual? "Replicar" na África a experiência de monocultura extensiva do cerrado brasileiro.
mfilho@folhasp.com.br
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