São Paulo, terça-feira, 30 de maio de 2006 |
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CLÓVIS ROSSI O trambique desce redondo SÃO PAULO - Suspeito de que
pouca gente tenha prestado atenção ao retrato acabado do brasileiro
que está no ar nos comerciais, embutido em anúncio da cerveja Skol.
Para quem não viu ou não prestou atenção, um resumo: um torcedor brasileiro vê a Argentina jogar
contra o Brasil e, latinha de cerveja
na mão, diz que, com a Skol, tudo
desce redondo, inclusive o jogo.
A partir daí, as traves ficam redondas e móveis. Sempre que a Argentina está para marcar um gol,
elas saem da posição regulamentar,
e o gol é perdido.
É a sacramentação pública do
trambique, da falta de respeito às
regras, regrinhas simples, básicas.
Quando se festeja a quebra de uma
regra, fica implícito que todas podem ser quebradas -e usualmente
o são no Brasil.
É a apologia do crime, pequeno
crime, mas crime, como os brasileiros praticamos diariamente ao invadir a faixa do pedestre, ao ultrapassar pela direita, ao estacionar
em fila dupla, ao subornar o guarda
para evitar a multa. Fico na lista de
pequenos crimes para não aporrinhar o leitor com os grandes crimes
que ele lê todo santo dia, não só nas
páginas policiais mas também (ou
principalmente) nas páginas políticas.
Note o leitor que estamos falando
de futebol, uma das raríssimas atividades em que o brasileiro é universalmente competitivo. Não precisa de traves móveis para ganhar
da Argentina ou de quem quer que
seja. Mas o espírito do malandro
cretino é esse mesmo: melhor sem
esforço, com ajuda da maracutaia,
do que empenhar-se para fazer valer o talento natural.
Note também que estamos falando de publicidade, outro ramo em
que o brasileiro é com folga dos melhores do mundo. Se os melhores
louvam o trambique, os medianos e
os piores farão o quê? Aderir ao
PCC, lógico.
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