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CARLOS HEITOR CONY
O futuro de Lula
RIO DE JANEIRO - Apesar do
naufrágio do Partido dos Trabalhadores, Lula dispara nas pesquisas e,
à falta de concorrentes categorizados eleitoralmente, é quase certa a
sua reeleição.
O problema agora é saber com
quem ele governará. Normalmente,
seria com o seu partido de origem e
seus naturais aliados. Mas o PT está
de tal forma bichado que ele terá de
apelar para uma estrutura partidária que, entre mortos e feridos, é
ainda a maior do pais: o PMDB.
Nada contra o partido, versão fisiológica do combativo MDB dos
tempos da ditadura militar. Um
PMDB que se recusa a ter candidato próprio para melhor se arrumar
no tabuleiro nacional, lembrando
aquela frase de Pinheiro Machado,
que desdenhava a Presidência da
República, preferindo continuar
soba dos gaúchos por quase 30 anos
e dizendo: "Na política, o prato
principal do banquete é na província. Cargo federal é sobremesa e cafezinho". Foi assim que despachou
Getúlio Vargas para o Ministério da
Fazenda no governo de Washington Luiz. Guardou para si o poder
estadual e livrou-se do rival, mandando-o para esfera aparentemente superior.
Daí que o futuro governo Lula
não terá outra solução senão se
aliar em unha e carne com o partido
que detém o maior número de colégios eleitorais. Do ponto de vista da
votação, será uma goleada: preferência compacta na figura física de
Lula e na figura jurídica do maior
partido nacional.
Na parte administrativa, será a
negação de tudo o que Lula representou até a sua eleição em 2002.
Diz ele que seu lema será o mesmo:
"Paz e amor". Com o indispensável
adendo: "e todas as vantagens a que
teremos a direito".
Fim melancólico para o ex-metalúrgico e líder sindical. A cada dia, é
obrigado a engolir tudo o que pensou e disse no passado.
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