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ELIANE CANTANHÊDE
Febre alta
BRASÍLIA - O salário de um motorista do Senado que dá expediente como mordomo em ilustres casas
particulares é de R$ 12 mil, enquanto um médico pediatra ganha o inicial de R$ 3.600 mensais por semana de 20 horas na rede pública do
DF e em torno de R$ 4.200 entre
consultas particulares e cobertas
por convênios.
Mas não é essa comparação que
irrita os pediatras, até porque o sistema de saúde do Senado, o SIS, é o
único convênio que paga R$ 100 pela consulta. É mais que o dobro do
pago pelos planos de saúde -R$ 24
a R$ 47. Muito pouco para uma responsabilidade bem maior do que
cuidar do carro, da copa e da cozinha de Suas Excelências e para cobrir aluguel, secretária, telefone,
água, luz e transporte.
Os pediatras do DF fazem protesto amanhã contra os planos de saúde que pode se multiplicar pelo
país. Vão atender normalmente na
rede pública, mas se recusar a receber guias de convênios na privada.
A ideia é cobrar R$ 90 e sugerir que
os pais reclamem reembolso.
Quem tem filhos sabe como o pediatra é amigo, confidente, professor, consultor. É para quem você liga três vezes de dia e mais uma de
madrugada quando a criança tem
40C de febre ou não para de chorar. Não raro, uma consulta paga se
desdobra em várias grátis, a título
de "retorno". Todas longas.
Apesar de ser uma área tão nobre,
os médicos começam a reagir à pediatria. Só 23 das 47 vagas de residência nessa área no DF foram
preenchidas neste ano.
Os hospitais particulares começam a ter problema para manter a
escala de pediatras e o pronto-socorro na especialidade. Em Belo
Horizonte, consta que 90% dos 50
já não têm. Em São Paulo, metade
dos 178 também não. Em Brasília,
dois grandes hospitais acabam de
anunciar o fim da emergência pediátrica. Socorro!
Que tal gastar menos com motoristas de senadores e mais dinheiro
público e dos planos de saúde com
os pediatras das crianças do Brasil?
elianec@uol.com.br
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