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CLÓVIS ROSSI
Modelo para exportação
SANTANDER - Os incessantes pedidos de paciência que o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva tem feito parecem encontrar muito mais eco no exterior do que no Brasil.
Miguel Ángel Moratinos, ministro
espanhol do Exterior, diz que "o modelo de Lula despertou muita ilusão.
Está fazendo as reformas ortodoxas,
mas, ao mesmo tempo, põe em marcha programas sociais inovadores".
Moratinos citou Lula como exemplo ao defender a tese de que os países
latino-americanos precisam atenuar
"o extremado rigor neoliberal" com
"programas de coesão social".
Para o ministro espanhol, é isso que
Lula está fazendo. No Brasil, há controvérsias sobre a segunda parte.
No setor privado espanhol, o "modelo Lula" é citado como "paradigma para todo o mundo" por Francisco Luzón, responsável por América
Latina no grupo Santander e que foi,
no anterior governo socialista (até
1996), o condutor dos sete bancos públicos então existentes na Espanha
(não sobrou nenhum).
Luzón tem o cuidado de ressalvar
que o modelo Lula é novo "pelo menos conceitualmente". Uma maneira
elegante e diplomática de dizer que,
até agora, tem mais conceito que realidade prática.
Não obstante, o representante do
Santander diz ter esperança de que o
"modelo" dê certo. "Se o Brasil for
bem, é quase certo que a América Latina também irá", torce.
"Ir bem", no caso, significa conseguir "crescimento sustentável com
eqüidade". Seria tudo de bom, como
diz a garotada hoje em dia.
É uma pena que o próprio Luzón
diga que o país "não está ainda em
condições de crescer 5% ao ano de
maneira sustentável".
Pena também que todo o entusiasmo dele pela América Latina não o
impeça de lembrar que, na região, os
sem-banco são 200 milhões de pessoas. Significa que 85% da população
não usa serviços bancários (no Brasil,
calcula, a porcentagem não deve ser
muito diferente).
O "paradigma Lula" vai ter, portanto, muito trabalho para manter a
ilusão que Moratinos viu nele.
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