São Paulo, sexta-feira, 30 de julho de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Modelo para exportação

SANTANDER - Os incessantes pedidos de paciência que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem feito parecem encontrar muito mais eco no exterior do que no Brasil.
Miguel Ángel Moratinos, ministro espanhol do Exterior, diz que "o modelo de Lula despertou muita ilusão. Está fazendo as reformas ortodoxas, mas, ao mesmo tempo, põe em marcha programas sociais inovadores".
Moratinos citou Lula como exemplo ao defender a tese de que os países latino-americanos precisam atenuar "o extremado rigor neoliberal" com "programas de coesão social".
Para o ministro espanhol, é isso que Lula está fazendo. No Brasil, há controvérsias sobre a segunda parte.
No setor privado espanhol, o "modelo Lula" é citado como "paradigma para todo o mundo" por Francisco Luzón, responsável por América Latina no grupo Santander e que foi, no anterior governo socialista (até 1996), o condutor dos sete bancos públicos então existentes na Espanha (não sobrou nenhum).
Luzón tem o cuidado de ressalvar que o modelo Lula é novo "pelo menos conceitualmente". Uma maneira elegante e diplomática de dizer que, até agora, tem mais conceito que realidade prática.
Não obstante, o representante do Santander diz ter esperança de que o "modelo" dê certo. "Se o Brasil for bem, é quase certo que a América Latina também irá", torce.
"Ir bem", no caso, significa conseguir "crescimento sustentável com eqüidade". Seria tudo de bom, como diz a garotada hoje em dia.
É uma pena que o próprio Luzón diga que o país "não está ainda em condições de crescer 5% ao ano de maneira sustentável".
Pena também que todo o entusiasmo dele pela América Latina não o impeça de lembrar que, na região, os sem-banco são 200 milhões de pessoas. Significa que 85% da população não usa serviços bancários (no Brasil, calcula, a porcentagem não deve ser muito diferente).
O "paradigma Lula" vai ter, portanto, muito trabalho para manter a ilusão que Moratinos viu nele.


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