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ELIANE CANTANHÊDE
Chumbo grosso
BRASÍLIA - Apesar da gritaria dos empregadores, dos desempregados,
dos empregados, dos experts e, principalmente, do vice-presidente da República, o Banco Central está ameaçando... aumentar os juros!
São duas partes cruciais da ata da
última reunião do Copom (o comitê
do banco que decide as taxas de juros
-e o meu, o seu e o nosso destino).
Numa, a advertência: "(...) a manutenção da taxa de juros básica nos níveis atuais por um período prolongado de tempo deverá permitir a concretização de um cenário benigno
para a inflação". Na outra, a ameaça: "(...) a autoridade monetária reitera que estará pronta para adotar
uma postura mais ativa". Leia-se:
vem chumbo grosso por aí.
Tudo dito, tudo anunciado. Para
nós, comuns mortais, que compramos, comemos, produzimos e trabalhamos, as notícias de reaquecimento
da economia pareciam boas e alvissareiras. Mas, para os gênios do Banco Central, são péssimas e assustadoras. Onde nós lemos mais empregos e
mais renda, eles lêem mais inflação.
E estão com o tacão pronto para acabar com a festa.
Mas o problema é outro, e ainda
mais complicado num momento em
que o Banco Central cai na boca do
povo não mais apenas pelos juros altos, como de praxe, mas por suspeitas
sobre seu presidente, Henrique Meirelles, e sobre o diretor Luiz Augusto
Candiota, que até já caiu.
Ontem, em diferentes pontos de
Brasília, o discurso unificado foi o de
que a crise está sob controle. Porque
Meirelles explica que suas contas têm
sido mexidas e remexidas e que não
há nada contra ele. E porque, na avaliação do Planalto, tudo não passou
de um detalhe burocrático de domicílio fiscal versus domicílio eleitoral.
Portanto é tocar a vida.
Com uma ressalva: sextas-feiras em
Brasília são potencialmente sextas-feiras, 13, dias da urucubaca que Lula acaba de criticar. Pelo que saiu até
agora, Meirelles se safou. Mas nunca
se sabe o que ainda pode sair. Além,
claro, do escândalo rotineiro das
maiores taxas de juros do planeta.
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