São Paulo, sexta-feira, 30 de julho de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

Chumbo grosso

BRASÍLIA - Apesar da gritaria dos empregadores, dos desempregados, dos empregados, dos experts e, principalmente, do vice-presidente da República, o Banco Central está ameaçando... aumentar os juros!
São duas partes cruciais da ata da última reunião do Copom (o comitê do banco que decide as taxas de juros -e o meu, o seu e o nosso destino).
Numa, a advertência: "(...) a manutenção da taxa de juros básica nos níveis atuais por um período prolongado de tempo deverá permitir a concretização de um cenário benigno para a inflação". Na outra, a ameaça: "(...) a autoridade monetária reitera que estará pronta para adotar uma postura mais ativa". Leia-se: vem chumbo grosso por aí.
Tudo dito, tudo anunciado. Para nós, comuns mortais, que compramos, comemos, produzimos e trabalhamos, as notícias de reaquecimento da economia pareciam boas e alvissareiras. Mas, para os gênios do Banco Central, são péssimas e assustadoras. Onde nós lemos mais empregos e mais renda, eles lêem mais inflação. E estão com o tacão pronto para acabar com a festa.
Mas o problema é outro, e ainda mais complicado num momento em que o Banco Central cai na boca do povo não mais apenas pelos juros altos, como de praxe, mas por suspeitas sobre seu presidente, Henrique Meirelles, e sobre o diretor Luiz Augusto Candiota, que até já caiu.
Ontem, em diferentes pontos de Brasília, o discurso unificado foi o de que a crise está sob controle. Porque Meirelles explica que suas contas têm sido mexidas e remexidas e que não há nada contra ele. E porque, na avaliação do Planalto, tudo não passou de um detalhe burocrático de domicílio fiscal versus domicílio eleitoral. Portanto é tocar a vida.
Com uma ressalva: sextas-feiras em Brasília são potencialmente sextas-feiras, 13, dias da urucubaca que Lula acaba de criticar. Pelo que saiu até agora, Meirelles se safou. Mas nunca se sabe o que ainda pode sair. Além, claro, do escândalo rotineiro das maiores taxas de juros do planeta.


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