São Paulo, sexta-feira, 30 de agosto de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

Quem destrói, quem constrói

JOHANNESBURGO - Meta de energia renovável é para todo mundo, porque todos os países consomem energia. Meta de conservação e de recuperação de ecossistemas vale mais para quem tem florestas, rios, uma natureza pujante.
Eis a chave da queda-de-braço entre o Brasil, liderando o grupo G-77, dos pobres, e a União Européia e os EUA, capitaneando o G-7, dos ricos.
O Brasil é autor na Rio +10 da proposta de uma meta de 10% de energia renovável para todos os países. Isso atinge em cheio os industrializados, que usam mais carros e produzem mais poluição no planeta. E odeiam metas.
Já a UE apresentou uma meta de biodiversidade até 2010, e aí o Brasil e os demais países megadiversos (que têm a maior quantidade de espécies) não gostaram. Por quê? Porque são atuais destruidores de florestas, animais, rios. Os desenvolvidos já destruíram tudo. Agora é a nossa vez.
Os dois grupos se empurram metas para o futuro e acusações sobre o presente e o passado. O Brasil joga na cara dos EUA que eles são culpados por um quarto da poluição que mata o ar do planeta. Os EUA respondem que a Amazônia e Mato Grosso estão ardendo -e não ficam no Texas nem em Iowa.
O mundo agradece, porque da disputa pode sair o seguinte meio-termo até que a Rio +20 (daqui a dez anos) possa avançar mais:
1) o Brasil aceita a exigência da UE de incluir as hidrelétricas para efeito dos 10% renováveis, mas criando barreiras. Exemplo: a de Balbina, no próprio Brasil, ficaria de fora. Inundou muito e gera pouca energia;
2) depois de fazer essa concessão e de driblar os árabes (que rejeitam metas por causa dos cifrões do petróleo, símbolo do não-renovável), o Brasil poderá aceitar metas de biodiversidade. Mas abrandadas. Argumenta que faz o máximo. Mais fica difícil.
Se você chegou até aqui sem me xingar por não escrever sobre a reviravolta das pesquisas, pense grande: o que está em jogo em Johannesburgo não é só o futuro do Brasil, e sim o futuro do planeta. Do Brasil, inclusive.


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