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ELIANE CANTANHÊDE
Quem destrói, quem constrói
JOHANNESBURGO - Meta de energia renovável é para todo mundo,
porque todos os países consomem
energia. Meta de conservação e de recuperação de ecossistemas vale mais
para quem tem florestas, rios, uma
natureza pujante.
Eis a chave da queda-de-braço entre o Brasil, liderando o grupo G-77,
dos pobres, e a União Européia e os
EUA, capitaneando o G-7, dos ricos.
O Brasil é autor na Rio +10 da proposta de uma meta de 10% de energia renovável para todos os países. Isso atinge em cheio os industrializados, que usam mais carros e produzem mais poluição no planeta. E
odeiam metas.
Já a UE apresentou uma meta de
biodiversidade até 2010, e aí o Brasil e
os demais países megadiversos (que
têm a maior quantidade de espécies)
não gostaram. Por quê? Porque são
atuais destruidores de florestas, animais, rios. Os desenvolvidos já destruíram tudo. Agora é a nossa vez.
Os dois grupos se empurram metas
para o futuro e acusações sobre o presente e o passado. O Brasil joga na cara dos EUA que eles são culpados por
um quarto da poluição que mata o ar
do planeta. Os EUA respondem que a
Amazônia e Mato Grosso estão ardendo -e não ficam no Texas nem
em Iowa.
O mundo agradece, porque da disputa pode sair o seguinte meio-termo
até que a Rio +20 (daqui a dez anos)
possa avançar mais:
1) o Brasil aceita a exigência da UE
de incluir as hidrelétricas para efeito
dos 10% renováveis, mas criando
barreiras. Exemplo: a de Balbina, no
próprio Brasil, ficaria de fora. Inundou muito e gera pouca energia;
2) depois de fazer essa concessão e
de driblar os árabes (que rejeitam
metas por causa dos cifrões do petróleo, símbolo do não-renovável), o
Brasil poderá aceitar metas de biodiversidade. Mas abrandadas. Argumenta que faz o máximo. Mais fica
difícil.
Se você chegou até aqui sem me
xingar por não escrever sobre a reviravolta das pesquisas, pense grande:
o que está em jogo em Johannesburgo
não é só o futuro do Brasil, e sim o futuro do planeta. Do Brasil, inclusive.
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