São Paulo, sexta-feira, 30 de agosto de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES A teoria e a prática nos preços do gás
SEBASTIÃO DO REGO BARROS e LUIZ AUGUSTO HORTA NOGUEIRA
Entretanto os mercados nem sempre funcionam como esperado e diversos fatores podem distorcer a livre interação entre a oferta e demanda. Com a elevação dos preços observada a partir do final de março, motivada pela variação do dólar e do preço internacional do petróleo e agravada pelas elevações correspondentes nos tributos (basicamente no ICMS) e nas margens, tornou-se necessária a ação mais efetiva da ANP na proteção dos consumidores. Com a recente resolução do Conselho Nacional de Política Energética, a ANP vem tratando dos preços elevados do GLP com base em dois princípios: defender o consumidor e promover um mercado competitivo. Nesse sentido, atuou em distintas frentes: buscou um comprometimento dos agentes da distribuição e revenda, com a adequação das margens, e estabeleceu uma redução no preço nas refinarias, a ser aplicada apenas na parcela de GLP destinada ao envasamento de botijões de 13 kg. Além disso, vem monitorando os preços de distribuição e revenda, divulgados de forma ampla e estruturada. A ANP também intensificou sua relação com os órgãos do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência, visando eventuais ações preventivas nos casos críticos, identificados pelo monitoramento de preços. Quanto aos impostos estaduais, o Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária) estabeleceu novos convênios para assegurar o repasse da queda dos preços. Como resultado, observa-se uma clara redução nos preços dos botijões para os consumidores, que será acompanhada permanentemente. A ANP agirá pontualmente com firmeza, se necessário, para reprimir eventuais abusos. Porém a tendência de queda nos preços de GLP aponta para o acerto da estratégia adotada. Tão importante como atuar corretivamente é manter a visão do futuro desejável. Temos de estimular um mercado competitivo para o GLP, em um quadro de profundas assimetrias sociais, para um produto com especificidades tecnológicas e econômicas. Definir políticas de preços neste ambiente é um desafio, pois é uma abordagem simplista igualar a cada momento o preço doméstico de um bem ao seu preço internacional. Na verdade, os preços em um ambiente saudável devem considerar a flexibilidade da demanda, as perspectivas de redução de custos, os contratos de longo prazo nos mercados de petróleo e derivados, os valores agregados em moeda nacional, a logística e serem menos susceptíveis a um regime de câmbio flutuante. Em síntese, as medidas recentes implementadas pela ANP para o gás de cozinha visam atender ao consumidor e ao mercado. Não podemos considerar plenamente resolvida a política de preços do GLP, um problema complexo e que merece a maior atenção. Desenvolver um mercado competitivo, com várias empresas atuando na produção, distribuição e revenda continua sendo o objetivo da ANP. Esse objetivo, porém, não pode ser um fim em si mesmo. Para ser legítimo e válido, deve ter como alvo a proteção do consumidor e o desenvolvimento econômico e social do país. Sebastião do Rego Barros, 62, embaixador, é diretor-geral da ANP. Luiz Augusto Horta Nogueira, 45, engenheiro mecânico, é diretor técnico responsável pela área de Abastecimento da ANP. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Donna Hrinak: Entendimento mútuo Próximo Texto: Painel do Leitor Índice |
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