|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
O "cara" cansou?
SÃO PAULO - O presidente Luiz
Inácio Lula da Silva emite crescentes sinais de que está cansado da pirotecnia verbal de seus pares latino-americanos. Mais de uma vez,
em atos públicos ou entrevistas coletivas dessa turma, o presidente
me olha com um sorriso maroto no
canto da boca e uma cara de "eu-não-mereço".
Até aí, podia ser apenas leitura
equivocada do gesto. Mas é a segunda vez em poucos meses em que Lula reclama publicamente do excesso de discursos de seus pares.
Primeiro, na Cúpula das Américas (abril), em que ironizou o tempo
que o nicaraguense Daniel Ortega
gastou em sua fala, aliás uma peça
patética.
Agora, em Bariloche, generalizou
a crítica: "A gente vir para uma reunião como chefe de Estado e cada
um ficar falando para seu público
não dá certo".
Entendo Lula. Vai à cúpula do
G20, que reúne grandes e emergentes, e faz sucesso. Vai aos Brics, os
futuros grandes, segundo uma firma financeira interessada em lucrar com eles, e também faz sucesso. Aí, volta para o Sul, em que deveria mais ainda ser "o cara", e não
consegue arrumar a casa.
Não conseguiu convencer Álvaro
Uribe de que não funcionou até
agora o acordo Colômbia/Estados
Unidos, e que, portanto, é preciso
mudar de rumo.
Não consegue, nunca aliás, convencer Hugo Chávez a seguir a ordem do rei da Espanha ("porque no
te callas", lembra-se?) e aceitar que
a preservação da Unasul é o grande
objetivo, que suplanta todos os demais, como diz Marco Aurélio Garcia, o assessor de Lula para temas
internacionais.
Antes, já dissera ao presidente
boliviano Evo Morales que não
aceitava negociar "com uma espada
no pescoço", em referência à nacionalização do gás.
Nesse ritmo, não demora e Lula
também acabará proclamando o
seu "cansei".
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Propaganda para crianças
Próximo Texto: Bariloche - Eliane Cantanhêde: Não colou Índice
|